Wednesday, December 29, 2004

Tsunamis, Profecias, Acaso e Morte

Ondas de 10 metros arrastando o que estava no caminho. 24 mil mortos, número que deve aumentar. Doenças como a malária estão previstas para as áreas afetadas. Turistas em desespero tentam voltar para casa. Os países que não foram atingidos preocupam-se com a possibilidade.
Este início de século foi marcado por tragédias, mas a natureza ainda não tinha se revoltado com tamanha magnitude. Sinal do apocalipse próximo ? É o que profecias indicam. Paralelos às previsões fatalistas, estão o choro do garotinho cujos pais não se sabe se sobreviveram, a rede de esgotos destruida que testará os sobreviventes com doenças, a mobilização de organizações internacionais para conter as desgraças e reconstruir o que a fúria da água tocou.
A tragédia natural se junta às variadas tragédias provocadas pelo homem para compor um quadro assustador. Será que valerá a pena, para a minha geração, ter filhos ? Colocar uma vida num mundo onde se morre sem culpa, sem velhice, sem motivo ? Talvez isso sempre tenha ocorrido, de diferentes formas, ao longo da História: Fogueira da Inquisição, espada de mercenário, dentes de feras selvagens. Talvez o que assuste é perceber o quanto é frágil a segurança proporcionada pelo progresso da civilização. O quanto o acaso é responsável por nossas vidas e mortes.
Para mal ou bem, o acaso é uma manifestação daquilo que está além de nós, que muitos chamam de Deus. Não compreendemos de que maneira ele atua, que padrões segue, se é que segue algum padrão. Ficamos chocados com suas fatalidades porque todo o nosso esforço por segurança é inútil diante dele. Ninguém previu as Tsunamis, não foi possível. Será possível algum dia ? Talvez algum profeta saiba responder.

Sunday, December 05, 2004

Diversão

Domingão, me recuperando da farra dos dias anteriores, fui ao shopping recife com Paulo Mineirinho. Já virou hábito. Pelo menos uma vez por semana vou ao shopping com ele, fora as vezes que vou sozinho, ou com o pessoal do cursinho. Boa parte dos meus amigos fala: "pô, Bernardo, shopping é um saco..." Será ?
O que eu faço no shopping pode ser resumido em três itens: Tomar café de graça na sodiler, ler um pouco dos livros, olhar as mulheres. A companhia de Paulo é especialmente boa para este último, pois exercitamos a cretinagem criativa tecendo comentários sobre os monumentos ambulantes. Não vou entrar em detalhes em respeito à discrição do elemento mineiro. Posso dizer que é sempre divertido... e gratuito.
Atualmente existem muitas opções de diversão, várias tecnologias sendo desenvolvidas com este objetivo. No entanto, estes atalhos para a diversão muitas vezes não levam à ela. Quando levam não satisfazem, induzem a várias repetições da "atividade divertida"... até o ponto em que se enjoa dela. Então surge uma nova "atividade divertida" mais sofisticada... e o ciclo se repete.
O resultado é que somos cada vez mais exigentes com a diversão. Ficar conversando bobagens com um amigo num local agradável não é divertido, não quando se pode ir pro barzinho da moda, mandar torpedos pras gatinhas com o celular recém lançado. Será que a gurizada ainda joga pião, bolinha de gude, esconde-esconde, polícia e ladrão... ou será que pra eles toda a diversão se resume ao Playstation 2 e seus milhares de jogos ?
Quem não me conhece pode achar que sou um senhor ranzinza, com saudades da infância nos anos 50. Não, eu tenho apenas 20 anos. Não tenho aversão às novas tecnologias, eu as uso bastante. O problema é limitar-se à elas na busca por diversão. Porque será difícil não cair no comprar-usar-enjoar-comprar o novo. Elas são feitas pra isso. Quando demoram a enjoar, são lançadas novas versões, melhoradas, para que o ciclo continue. E a diversão gerada por este ciclo não satisfaz. Se o fizesse, o próprio ciclo morreria.
É bom lembrar que a melhor amiga da diversão é a imaginação. É ela que faz com que a criança pobre passe horas se divertindo com seu carrinho de madeira sem desejar outra coisa, pelo menos até os apelos do consumo a atingirem. É ela que faz com que uma ida ao shopping seja tão divertida, mesmo sem estar com um real no bolso.