Sunday, November 26, 2006

Espertos e Otários

Chovia muito, naquela noite. Duas paulistas ao meu lado no avião, iam curtir as férias em Natal. Eu tinha visto a previsão do tempo para a semana, e resolvi prepará-las para o pior. Sempre faço isso. Acho que é uma boa forma de diminuir frustrações. Contei em tom de piada, elas sorriram... meio amarelo no começo, mas logo estavam rindo de verdade da situação.

"Rir das ironias com que a vida nos confronta". Clichezão de auto-ajuda, sem dúvida. Mas eu sempre me perguntei: por que esses livros vendem tanto? Depois de ler alguns, descobri que eles fazem você se sentir bem. Todo mundo deseja progressos para si. Tornar-se uma pessoa melhor. Mas esta é uma idéia muito abstrata. O que esses livros fazem é indicar ações concretas que levam à idéia abstrata. Como as religiões. Só que não procuram convencer por meio de uma fé que pouco explicam. Não, eles são cheios de explicações, algumas convincentes, outras nem tanto, mas que, das duas, uma: ou te fazem se sentir bem ou te fazem pensar que o autor acha que você é um otário. O engraçado é que o otário se sente bem com a leitura, enquanto o cético se irrita. E, se o lema é "sinta-se bem o quanto puder", o otário é o esperto e o cético é o otário.

Eu gostei dessa idéia, achei esperta. Queria ter pensado nela naquela noite, acho que impressionaria as paulistas, e quem sabe elas não decidiriam desembarcar em Recife, inclusive porque o tempo lá estaria melhor, segundo a previsão, ou melhor, segundo meu relato da previsão. Mas não, não pensei nisso na hora, não impressionei as meninas, e a improvável flechada do desembarque não teve a menor chance de atingir o alvo, porque nem chegou a sair do arco. Diga aí, se eu tivesse conseguido mudar o destino das paulistas. Iria me achar a "lâmpida" de Adoniran. (http://www.box.net/public/2n9kssk4zd) Meu ego iria na altura do de Justin Timberlake ("Faço o 'Sexy' voltar/esses putos vêem como ataco/se a mina é sua, melhor se cuidar/porque ela me quer e isso é fato").

Vendo por esse lado, que bom que não tive a idéia na hora, ela poderia comprometer meus projetos de humildade e desenvolvimento espiritual. Até parece... até parece que sou otário.

Saturday, November 25, 2006

A Verdade sobre a Babilônia

Muita gente usa a palavra “Babilônia” de forma equivocada. Uma festa enfumaçada, potencialmente orgiástica, “é a Babilônia!”, para muitos. Nesse sentido, Babilônia seria algo positivo, diversão da fera.

O contexto real da palavra, no entanto, não é esse. Pensei em fazer um texto pra jogar luz no assunto, mas já há um texto que fala tudo o que é necessário saber sobre a questão. E, de quebra, o texto vem inserido num dub de primeira. Trata-se de “Muita falta de anti-profissionalismo dub”, faixa do disco Piratão, do Quinto Andar, cantada por Bnegão. Ouçam, e descubram a verdade sobre a Babilônia.

http://www.box.net/public/q39g5bdjnh (para os não muito habituados à tecnologia, é só clicar no link e clicar em "play" :P)

Thursday, November 23, 2006

Promessa de fim de ano

"Há sempre uma musa ordinária esperando para ser trabalhada. Quem fica sentado esperando ser fulminado por um raio de inspiração não persiste." - Robert Crumb

Tava observando os intervalos entre os posts desse meu blog. Volta e meia, eles ficam enomes. O engraçado é que quase todo dia eu entro para checar o número de visitas, mas passo semanas sem colocar nada de novo. Como diria um amigo meu, tô querendo pegar o gabarito sem ter feito a prova. Ou colher o que não plantei.

Essa tal de inspiração é curiosa. Todo mundo que faz algo criaivo com regularidade sabe como é bom trabalhar inspirado. Você tropeça nas idéias, são tantas que é até difícil escolher, e elas parecem se desenvolver por elas mesmas, como se você tivesse apenas aberto a represa, e deixado o rio seguir seu fluxo.

O danado é que volta e meia essa represa não abre de jeito nenhum. Você força, reforça, e não destroça a barreira. Quer dizer, eu devo admitir que não forço muito não. Se tá muito difícil, prefiro esperar até ficar mais fácil. E isso às vezes leva um bom tempo.

O problema não é tanto o tempo de espera, eu não tenho pressa, minha fase Devotos já passou. O problema é o tempo de treino (logo, de desenvolvimento) que vai sendo desperdiçado. A sensação de não estar desenvolvendo satisfatoriamente minhas potencialidades. Isso me incomoda um bocado.

Por isso resolvi colocar em prática a frase de Crumb, e comprar mais ações de persistência, da qual minha bolsa de valores carece. Postar todo dia pra mim é quase uma utopia, mas fica como meta que, mesmo não alcançada, já vale pela busca. O blog tá na Web, mas a web não deve acumular no blog. Meu futuro agradece.

Tuesday, November 07, 2006

Veredas da Babilônia

Identidades construídas com areia
pretensões de diamante, realidade de vidro.
Desejos debatendo-se na teia
prisões decoradas com estilo.

Gargalhadas estridentes como quem receia
o pecado de pela melancolia ser atingido.
Vaidades lutando por brincadeira
encantos desprovidos de sentido.

O vazio é imenso para quem tateia
pelas veredas da Babilônia, perdido.
A fome não é suprida por tanta ceia
a alma não se sacia com o divertido.