Tuesday, April 17, 2007

A graça do The Playboys

O show do The Playboys, na última noite do 15º Abril pro Rock, foi o destaque negativo das bandas pernambucanas no festival. Essa é a opinião do jornalista Renato L, impressa na contracapa do Viver, caderno cultural do Diário de Pernambuco. “A banda precisa tornar corrosivo seu humor “colegial”, quase inofensivo, para não passar outros 10 anos longe do Abril”, afirmou o parceiro de Chico Science e Fred 04 na elaboração do manifesto “Caranguejo com Cérebro”, marco inicial do movimento Manguebeat.

A versão musical do manifesto é a faixa “Monólogo ao Pé do Ouvido”, que abre o primeiro disco de Chico Science e Nação Zumbi, Da Lama ao Caos. O The Playboys fez uma paródia curiosa dessa música, ironizando as imitações do mangueboy que tomaram conta da cena pernambucana, após a morte dele. É difícil encontrar humor mais corrosivo. Infelizmente, no show do Abril, essa letra foi mudada, perdendo um bocado de sua acidez. Em vez de desacatar alguns mangues, especificamente, tiraram onda com os indies, genericamente.

O humor “colegial” da banda fez rir a maior parte da platéia. As letras debochadas, com os personagens típicos da cena local, são o ponto forte das estrelas do movimento do “alto dos apartamentos de Boa Viagem”, como costumavam anunciar nos shows da época em que Devotos e o Alto José do Pinho eram destaque.

Eu achei estranho a banda ser criticada justamente naquilo que tem de melhor: o humor. Na cobertura do festival feita pelo Recife Rock, a avaliação do show é oposta a de Renato L. Talvez isso se explique porque os responsáveis pelo site são mais jovens que o jornalista do Diário, riem com mais facilidade das brincadeiras de adolescência. Ou talvez Renato L não ache graça numa banda fazendo piada de algo que ele ajudou a formar. Considerando que Roger, que também é um jovem de outrora, assistiu ao show soltando várias risadas, tendo a acreditar na segunda opção.

Saturday, April 14, 2007

Futebol no Abril pro Rock

Abril pro Rock de 2007, 15ª edição. A Nação Zumbi estava no meio de seu compacto show de abertura para os Mutantes. De repente, Lúcio Maia tira da sua guitarra o hino do Santa Cruz, time que caiu para a série B ano passado, fez um péssimo campeonato pernambucano, mas conseguiu a proeza de acabar com a invencibilidade do Sport no último jogo, ou, como preferem os mais diretos, tirou o cabaço do leão.

A maior parte da platéia levantou a mão numa dedada, em resposta ao hino da cobrinha. O Sport tem a maior torcida do estado, e os rubro-negros, embora bicampeões pernambucanos, ainda estavam sentindo o veneno da cobra tricolor, espalhado nas provocações das torcidas rivais.

Lúcio Maia não se intimidou e tocou o hino novamente, afirmando que "torcedor bom é aquele que torce quando o time tá perdendo". Frase bonita, mas que ficou com cara de média para os desgostosos da platéia, pois é difícil imaginar o hino sendo tocado se o Santa tivesse perdido o último jogo.

O show continuou, os dedos baixaram, e eu achei o incidente divertidíssimo. Mas houve quem tivesse a noite estragada pela gréia musical. Sérgio Bernardo, estudante de jornalismo de credibilidade inquestionável, me contou de um cara ao seu lado que ficou transtornado com as notas da dança da cobrinha. "Eu paguei, po! Não tinha que ouvir isso, fuleiragem da porra!", gritava o rubro-negro emputecido, que minutos antes estava cantando feliz as músicas da banda.

Rivalidade no futebol é um lance muito curioso. Para mim, que sou indiferente à questão, é difícil entender como o desempenho de seu time, ou as provocações adversárias, podem causar terremotos tão fortes no humor das pessoas. Ao mesmo tempo, acho arretadas as gréias esportivas, as provocações bem humoradas, e os entusiasmos de torcedor. Próxima semana devo ir a um estádio, lugar onde nem lembro quando entrei pela última vez. Quero ver se sinto a energia que faz tanta gente vibrar, torcendo para que não seja preciso deixar de curtir um belo show por conta disso.