Comentando no blog do meu chapa Pelé Costa, percebi que tava praticamente escrevendo um post. Considerando que esse humilde espaço já carece de um post há alguns dias, coloco aqui o link do espaço do chegado, onde você pode ler o texto que gerou esse comentário que posto aqui:
Hoje em dia, com a overdose de informações dos diversos meios, fica complicado achar as que produzam a "aprendizagem significativa". Ou melhor, considerando que qualquer informação tem esse potencial, nossa sensibilidade é embotada pelo excesso, gerando aquele incômodo "é tudo em vão", que você experimentou.
Um trecho de Sherlock Holmes me marcou ainda pirralho: diante do espanto do Dr Watson por ele, Holmes, não saber nada sobre o sistema solar, o detetive afirma que a mente é como um sótão: o insensato a acumula de informações desordenadamente, e quando vai procurar o que precisa, ou leva muito tempo ou não acha. Já o metódico a organiza com cuidado, só colocando dentro dela o que é importante para sua existência, sua função. "Você diz que giramos em torno do sol. Se girássemos em torno da lua, não faria a menor diferença pro meu trabalho".
Hoje a neurociência diz que a mente é elástica, quanto mais imput, mais coisa cabe. Mas permanece comigo o sentimento sherlockiano, que a maior parte do que carregamos é um peso desnecessário.
Tuesday, August 19, 2008
Tuesday, August 05, 2008
O Inferno dos Outros
Voltando do trabalho com o bom humor de quem está a poucos minutos de um delicioso almoço, vejo um cãozinho hesitante no meio da rua, na frente do carro à minha esquerda, que parou para evitar o "laticínio". O bicho ameaça entrar na minha faixa, paro o carro também, assim como o carro à minha direita. O cãozinho então desaparece da minha vista, e após alguns instantes eu e o da direita damos partida, no que ouvimos os ganidos de dor do bichinho atingido. Não sei qual de nós o acertou, nem se ele sobreviveu. Sei que o desespero do animal, correndo em círculos e gemendo alto, ficou impresso em minha mente, destruindo o bem-estar que me acompanhava na ocasião.
Viajando com um amigo, a conversa desagua no caso do primo dele, que anda deslumbrado com drogas e bandidos, matando os pais de desgosto com a impenetrável questão: onde erramos? O primo teve acesso ao melhor que a classe média pode oferecer. Na ânsia por respostas, especula-se sobre a revolta dele ao se descobrir adotado, sobre o excesso de liberdade concedido pelos pais, sobre a falta de uma atitude mais enérgica para recolocá-lo nos trilhos quando começou a descarrilhar... É imposssível medir o peso de cada fator no descaminho do primo, e "o que aconteceria se..." é uma pergunta tão inevitável quanto inútil.
Ao falar sobre o sofrimento do tio, que deixa ele próprio penalizado, meu amigo apontou que o primo não está nem aí para isso. E aqui chegamos ao que me parece o X da questão: a capacidade de se sensibilizar com a dor alheia. A imagem do cachorrinho, que tanto me abalou, provavelmente seria recebida com indiferença pelo primo.
Pesquisas recentes indicam que essa capacidade é determinada geneticamente: ao examinar o cérebro de vários psicopatas, os cientistas notaram um traço em comum: a ausência de uma substância necessária para o bom funcionamento da área cerebral responsável pela sensibilidade ao sofrimento dos outros.
É impossível medir separadamente o peso da genética e do ambiente na construção da personalidade. Nos sentimos melhor acreditando na predominância do meio, pela possibilidade de mudanças, melhoras... É doloroso aceitar que nosso precioso livre-arbítrio, ou as escolhas dos nossos pais, respondem muito menos pelo que somos do que nossos cromossomos. Principalmente quando é nosso filho quem ignora nossos ganidos e nossas corridas em círculos para tentar ajudá-lo.
Viajando com um amigo, a conversa desagua no caso do primo dele, que anda deslumbrado com drogas e bandidos, matando os pais de desgosto com a impenetrável questão: onde erramos? O primo teve acesso ao melhor que a classe média pode oferecer. Na ânsia por respostas, especula-se sobre a revolta dele ao se descobrir adotado, sobre o excesso de liberdade concedido pelos pais, sobre a falta de uma atitude mais enérgica para recolocá-lo nos trilhos quando começou a descarrilhar... É imposssível medir o peso de cada fator no descaminho do primo, e "o que aconteceria se..." é uma pergunta tão inevitável quanto inútil.
Ao falar sobre o sofrimento do tio, que deixa ele próprio penalizado, meu amigo apontou que o primo não está nem aí para isso. E aqui chegamos ao que me parece o X da questão: a capacidade de se sensibilizar com a dor alheia. A imagem do cachorrinho, que tanto me abalou, provavelmente seria recebida com indiferença pelo primo.
Pesquisas recentes indicam que essa capacidade é determinada geneticamente: ao examinar o cérebro de vários psicopatas, os cientistas notaram um traço em comum: a ausência de uma substância necessária para o bom funcionamento da área cerebral responsável pela sensibilidade ao sofrimento dos outros.
É impossível medir separadamente o peso da genética e do ambiente na construção da personalidade. Nos sentimos melhor acreditando na predominância do meio, pela possibilidade de mudanças, melhoras... É doloroso aceitar que nosso precioso livre-arbítrio, ou as escolhas dos nossos pais, respondem muito menos pelo que somos do que nossos cromossomos. Principalmente quando é nosso filho quem ignora nossos ganidos e nossas corridas em círculos para tentar ajudá-lo.
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