Tuesday, July 31, 2007

Curiosidades britanicas

O transito na Inglaterra parece ter sido criado para aumentar as chances de atropelamento de estrangeiros. Aqui os carros "sobem" pelo lado esquerdo e "descem" pelo lado direito. Nao foram poucas as vezes que vi incautos atravessarem a rua olhando para o lado errado, apenas para ouvir a buzina irritada do carro vindo no no sentido contrario. Ah, e aquela estoria de "colocou o pe na rua os carros param" e lenda, pelo menos aqui em Brighton: serve apenas para disparar as buzinas irritadas.

Mas o transito silencioso e verdade mesmo: os britanicos, ao contrario dos brasileiros, sao pouco propensos a praticar percussao nas buzinas de seus carros. Elas servem apenas para previnir acidentes com pedestres incautos ou motoristas barbeiros. O contagio percussivo dos engarrafamentos brasileiros inexiste por aqui, os ingleses esperam a fila andar em silencio.

Um outro detalhe que me impressionou e que quase todas as paradas de onibus tem uma placa eletronica informando em quanto tempo cada onibus vai chegar. Nada de esperar por seculos e comecar a se perguntar se todos os onibus da linha quebraram: aqui eles chegam rapido e te dizem em quantos minutos. Algumas vezes a placa erra, mas na maior parte das vezes ela acerta, o que ja e espantoso o bastante.

Eu sempre ouvi dizer que os britanicos sao um povo muito pragmatico. Um excelente exemplo disso sao os banheiros dos bares e boates: neles ha uma maquininha onde se compram camisinhas, viagras e remedios para ressaca e dor de cabeca. Voce coloca as moedinhas e garante a seguranca das suas colocacoes libidinosas. Faz muito sentido, afinal as chances de encontrar coleguinhas para brincar sao muito maiores nos bares e boates do que nas farmacias. Espertinhos, esses ingleses.

Tuesday, July 17, 2007

Celulares perdidos

Durante os preparativos para a viagem, resolvi nao ouvir o conselho do meu pai sobre comprar um despertador. Para que, se meu celular cumpre essa funcao? Embora ele nao funcione como um telefone por aqui, ainda assim e util como despertador, calculadora, agenda, minigame... Comprar um despertador e nao levar o celular simplesmente nao fazia sentido.

O que eu nao podia imaginar e que o meu celular e muito velho para a avancada tecnologia britanica. Fui em duas lojas, e eles disseram que eu nao encontraria baterias para ele, "because it's too old". Eu me senti o dono de um artefato pre-historico. Devido ao alto indice de roubo de celulares em Recife, eu fazia questao de ter o modelo mais barato, e tapava os ouvidos para o canto da sereia dos equipamentos mais modernos.

Como eu queria o celular essencialmente para funcionar como despertador, resolvi recusar a oferta de um modernoso por 30 libras, para comprar um modesto despertador de 3 libras. Antes da compra, no onibus voltando para casa, embaixo dos jornais jogados no banco, eis que encontro um celular perdido que, se nao era a ultima novidade no mercado, certamente era bem mais avancado que o meu.

Passeando com os botoes pela tela colorida, eu assistia o anjinho e o diabinho discutindo sobre o que fazer com o achado. Nao havia ninguem perto, nada que me impedisse de colocar o celular no bolso. Mas nao o fiz, o anjinho ganhou a briga logo no comeco, e eu nao sei explicar direito o porque. Pensei no dono feliz ao recuperar sua perda, senti que minha consciencia pesaria caso ficasse com o equipamento. Alem disso, eu tinha a certeza que ao entregar o celular para o motorista, eles dariam um jeito de entrega-lo ao dono. Nao sei se agiria da mesma forma caso estivesse no Brasil. Sei que boa parte dos meus amigos devem achar que fui otario, que deveria ter ficado com o eletronico. Essa e a opiniao do meu brother britanico. E voce, o que acha?

Saturday, July 14, 2007

Spray contra timidez

Cientistas inventaram um spray para combater a timidez. Ele imita um hormonio do bem estar (Oxytocin, em ingles) que dewixa as pessoas calmas. O hormonio e produzido naturalmente quando estamos apaixonados, a versao sintetica foi desenvolvida apos quase 10 anos de pesquisa na Universidade de Zurique. O invento foi testado em 70 pessoas. Elas deixaram de se sentir ansiosas e tiveram grande melhora no desempenho em dificeis situacoes sociais. O produto sera testado em escalas maiores, e se confirmado seu funcionamento, podera estar a venda nos proximos cinco anos.

Ou seja, em nao muito tempo, na hora de falar com aquela pessoa, algumas borrifadas no nariz vao eliminar o nervosismo que retira da boca as frases certeiras. Falar em publico deixara de ser um drama. Os bloqueios da timidez serao removidos pelo avanco da ciencia.

Suponhamos que o produto cumpra o que promete com perfeicao, sem nenhum efeito colateral. Um aumento na autoconfiana acessivel a qualquer hora. Frio na barriga? Spray na venta! Me vem logo na cabeca os versos de Raul Seixas: "E onde e que esta a vida? Onde esta a experiencia? Ja te entregam tudo pronto, sempre em nome da ciencia, sempre em troca da vivencia..."

Claro que o invento sera maravilhoso para os que sofrem de fobia social cronica, que ja tentaram e nao conseguiram superar suas limtacoes atraves do proprio esforco. Mas uma infinidade de gente vai deixar de tentar se superar, porque a superacao vira em spray. Pessoas que poderiam aprender a lidar e se livrar dos seus bloqueios, e ter com isso uma experiencia formidavel. Mas quem liga para experiencias? O que interessa sao resultados, embora o que torne a vida fantastica nao seja seu resultado (a morte), mas os caminhos que percorremos... Avancos como esse spray percorrem boa parte do caminho por nos.

Tuesday, July 10, 2007

O cara chamado O Rafa

O cara se foi. Rafael Virgínio Torres, mais conhecido como O Rafa, morreu nas vésperas da minha viagem à Inglaterra e do seu aniversário de 25 anos. Foi o segundo amigo muito próximo que desencarnou prematuramente. O primeiro, Felipe Braga, sofria de leucemia e sua saída deste mundo era anunciada pelo próprio, que tinha plena consciência disso. O Rafa também tinha uma doença rara. Mas ninguém imaginava que ela pudesse tirar sua vida tão cedo, o ataque cardíaco fulminante pegou todo mundo de surpresa.

Durante minha festa de despedida, ele sentiu dores e achou que era gastrite. Não era, era o coração mandando o alerta, e esse conhecimento tardio traz uma dor extra para os que estavam presentes, que poderiam tê-lo levado para o hospital a tempo se soubessem, e para os que saberiam o que fazer caso estivessem presentes, mas só tomaram conhecimento do caso quando o tempo dele já havia se esgotado.

Lembro-me do início do meu tempo compartilhado com ele, quando eu era um nerd iniciante querendo saber mais sobre RPG, e ele um nerd mais experiente na arte de viver aventuras em mundos imaginários. Ambos passamos pela libertação da nerdice atraves do rock e seu tão conhecido pacote. O Rafa já desenvolvia seu enorme talento musical em bandas folclóricas, como Trissomia e El Matador. Era o cara que ia para rodas de choro com a camisa do Ramones (na verdade, ele usava essa camisa para quase tudo que fazia). Até hoje sei tocar um trecho de Jacob do Bandolim que ele me ensinou, entre cigarros e pedestres da Av. Inácio Monteiro.

Com a Mombojó, O Rafa ficou famoso. Eu o chamava de cenoso, e morria de inveja do sucesso que ele fazia com as gatinhas culturais do Burburinho/Capitão Lima. Ele dizia que eu era uma promessa da cenosidade, e deveria voltar aos holofotes. Eu já não o via com tanta frequência, o tempo do cara estava tomado pelos seus diversos trabalhos musicais. Há tempos vinha tentando marcar uma sinuca com ele. Poderíamos ter jogado na minha despedida, mas não jogamos, acabou não acontecendo.

O que ainda aconteceria na vida do cara é uma enorme interrogação, que traz consigo um doloroso vazio. Mas a grandeza da interrogação é por conta da exclamação, muito maior, que foi sua vida, tocada com a sensibilidade de seu ouvido absoluto. O choro aqui foi grande, mas lá onde ele está, ao lado daqueles bambas todos, a melodia deve estar emocionando até o tempo que o levou.