Sunday, December 21, 2008

Praias, ilhas e travessias

Fiquei empolgado quando soube do encontro dos meus antigos colegas da 8ª série. Algumas figuras eu não via desde aquela época, dez anos atrás. Fazendo um retrospecto da minha vida escolar, vejo que com nenhuma outra sala eu tive uma identificação tão forte: foram 8 anos estudando juntos, num colégio de turmas pequenas, onde todo mundo tinha um grau mínimo de proximidade. Olhando daqui do presente para aqueles momentos do passado, eu tinha a sensação de ter fortes vínculos com todos os elementos daquela sala, mesmo aqueles que, na época, não faziam parte do meu círculo de relações.

Ao chegar no bar, a mesa já estava cheia. Foi ótimo rever figuras tão distantes no tempo. Mas, passado o momento "como tu tás? tás fazendo o quê da vida?", me veio a sensação de que já não havia mais nada a dizer, para a grande maioria dos presentes. Os grupos de maior afinidade da época relembravam estórias divertidas, casos curiosos... eu não me sentia parte de nada daquilo. Percebi que, quanto maior a distância no tempo, mais rosadas ficam as lentes com que eu tendo a enxergar o objeto: eu sentia uma forte conexão com o povo daquela sala de tantos anos, suficiente para ficar bem entusiasmado com as possíveis reuniões da galera, que nunca aconteciam.

Quando enfim aconteceu, o encontro trouxe um certo desapontamento. Parecido com o voltar, vários anos depois, ao ponto do qual vi meu pai saltando para o mar. Na época, a altura me parecia equivalente ao sétimo andar de um prédio. Anos depois, constatei que a altura do inesquecível salto não era maior do que aquelas casas de brinquedo para crianças, com balanços e escorregador. O que parecia épico, mágico, se revelou corriqueiro; tanto o salto quanto a sala brilhavam muito mais nas memórias nutridas pelo tempo do que na realidade oferecida pelo presente.

A correnteza do tempo parece levar a praias desencantadas, deixando para trás, distantes, as ilhas do sonho onde o fluxo ainda está começando, devagar, tão devagar que nem nos damos conta. Ao mesmo tempo, a correnteza parece dar mais carga nos trabalhos de edição das memórias da ilha. Quando olhamos, das praias, para as ilhas, tendemos a enxergá-las através dos binóculos da nostalgia, que deixa de lado as áreas escuras para enquadrar apenas as áreas iluminadas. Ao trazer um objeto da ilha para a praia e contemplá-lo sem a ajuda do binóculo, percebemos que tanto as luzes quanto as sombras ficaram, na sua maior parte, pela travessia.

Continuarei indo a todos os encontros. Mas sem confundir praias, ilhas, e travessias.