Friday, September 28, 2007

Mais fotos

Uma das vantagens das fotos e que elas me permitem atualizar o blog sem precisar de muito esforco criativo. To nos meus ultimos dias em Brighton, e nao me parece o momento adequado para dedicar tempo a escrita. Em breve, os textos retornam ao seu lugar.


Duas atracoes turisticas de Brighton: A igreja de Saint Peter e os onibus de dois andares. De vez em quando vejo uns adolescentes nos ultimos bancos do segundo andar, gritando, ouvindo hip-hop e batendo na janela, e me pergunto se os vejo da mesma forma que eu era visto quando perturbava o sossego nos transportes coletivos alguns anos atras.


Uma outra foto do Royal Pavillion, porque a ultima nao deu uma ideia exata da majestosa magnitude da construcao.


Orla de Brighton, com onibus de passeio e uma construcao no mar cujo nome me escapa.
E um passaro no centro, como tinha prometido na foto de algumas semanas atras.


Do lado esquerdo, quatro espanholas; do lado direito, uma austriaca. No meio delas, um brasileiro se perguntando sobre a melhor maneira de admnistrar essa dificilima situacao.

Sunday, September 16, 2007

Brincadeira e personagem

O controle da respiracao. Quando crianca, ele gostava de brincar com as diversas maneiras do ar entrar pelos pulmoes. Tudo comecou com as aulas de natacao, e as competicoes para ver quem passava mais tempo debaixo d'agua. Era otimo se desconectar do mundo por alguns instantes, flutuando na agua e nos pensamentos que comecavam lentos e iam acelerando, a medida que o tempo sugava o oxigenio dos pulmoes. A calmaria despejada pela urgencia de ar, contagens ate 10 em menos de dois segundos, diversas vezes, ate os musculos respiratorios comecarem suas contracoes involuntarias, uma vez, duas vezes, tres vezes, e o corpo nao podia esperar mais um milesimo de segundo sequer para ser invadido pelo ar. E que ar! Nao ha inspiracao mais prazerosa do que aquela que espera o quanto pode para acontecer. Sentir o pulmao dilatando, como um saco plastico soprado com forca, e por alguns instantes nao ha mundo, nao ha mente, nao ha nada alem de ar penetrando pulmoes, produzindo um orgasmo respiratorio.

Na adolescencia, ele passou a brincar com os estados de espirito. Se podia controlar os pensamentos que por sua vez davam origem aos sentimentos, era possivel escolher o que sentir, ele lera num livro de auto-ajuda, e aquilo fez um sentido enorme. Comecou a brincar com a construcao da identidade, escolhendo caractersiticas que gostaria de incorporar atraves das escolhas do pensar/sentir, como se fosse um personagem de RPG. E durante algum tempo, ele era exatamente quem queria ser, e um monte de gente queria ser como ele, era o que ouvia de vez em quando, e aquilo trazia uma vaidade enorme. Se sempre se sentira diferente da maioria, a diferenca agora parecia ser superioridade, sentimento bem diferente do que experimentava ao ser escolhido por ultimo para os times da Educacao Fisica, poucos anos antes, mas que pareciam bem distantes dessa epoca dourada. Agora a sociabilidade e o intelecto funcionavam tao bem que a inaptidao nos esportes nao incomodava mais. Quando questionado se jogava bola, respondia que isso e coisa para atleta. "E voce e o que?" "Sou boemio!", afirmava risonho, fazendo os outros rirem junto com ele.

A vaidade trouxe outro tipo de brincadeira: provocar reacoes nas pessoas. Quando percebeu que conseguia ganhar a maior parte das discussoes, mesmo estando errado, ficou viciado no brinquedo. Logo descobriu que, as vezes, argumentos nao sao a melhor forma de levar os outros a agir ou sentir o esperado. Passou a brincar com a linguagem corporal, aprendendo o quanto um sorriso, um tom de voz, um toque ou um olhar podem produzir efeitos inalcancaveis pelo verbo.

Chegou um momento em que a brincadeira ficou seria. Parte do processo era antecipar as reacoes das pessoas, ler o que estava sendo comunicado nao-verbalmente. Um dia essa etapa passou a ter muito mais a ver com a imaginacao dele do que com a realidade, fenomeno tambem conhecido como paranoia. Comecava a desconstrucao do personagem, a identidade desejada dando lugar a uma nova pessoa, algumas caracteristicas desaparecendo, outras retornando. Era um processo do qual nao tinha controle, com o qual nao podia brincar, e que levou um longo tempo para se habituar com seus efeitos.

Hoje, ele sente saudades do seu personagem, e de vez em quando tenta reaver algumas de suas qualidades, quase sempre sem muito sucesso. Mas vive bem melhor agora, moderando a vaidade e as brincadeiras. Identidade, afinal, e muito mais descoberta do que construcao. E personagens funcionam melhor na ficcao.

Saturday, September 15, 2007

Mais massagens visuais


Orla de Brighton vista do Pier. Um otimo lugar para contemplar as belezas naturais e ambulantes da cidade.


Continuando a serie "construcoes chinfrosas", eis o Royal Pavillion, um dos pontos turisticos da cidade.


Quatro das "Seven Sisters", colinas na beira do mar, famosas por atrairem pessoas testando sua capacidade de voo pulando do alto em direcao ao desconhecido. Um lugar bonito para abandonar o mundo.


Palacio de Buckingham, lar da Familia Real. Bonito jardim, mas as orquideas Turca e Alema estao ofuscando a flora britanica...


Aniversario da princesa gaucha (um doce para quem advinhar quem e). Um espanhol em meio a brasileirada (outro doce pra quem adivinhar qual deles, nao tao obvio, mas com 50% de chances de acerto, desde que voce saiba quem sou eu).

Friday, September 07, 2007

Jesus me persegue

1998, carnaval em Itapuama, litoral de Pernambuco. Estavamos na beira da praia, ouvindo a gandaia das ondas no mar, quando um jovem se aproxima para nos entregar um panfleto evangelico. "Muito obrigado, eu sou satanista", declinei, no intuito de tornar a tarde mais divertida fazendo o crente espumar de raiva. Para minha surpresa, ele calmamente retrucou: "E mesmo? E o que voce acha que Sata tem para lhe oferecer?" Dai seguiu uma conversa amigavel, sobre os pros e contras do Senhor e do Tinhoso. Simpatizamos com o crente gente boa, e resolvemos aceitar o convite para dar uma olhada no culto a noite, na falta de algo melhor para fazer. O pastor era dos mais fanaticos, daqueles que bate recordes nos decibeis e na saliva emitida ao pronunciar o santo nome: "Jesus! Alguem aqui deseja entregar seu coracao a Jesus?" Levantei o braco, mas uma vez a procura de diversao. O pastor me chamou para junto dele, para comocao das senhoras da primeira fila, contentes de ver um rapaz tao moco trilhando o caminho da salvacao. Repeti a oracao junto com o pastor, intercalada com tragos de cigarro, fazendo um esforco sobre-humano para nao rir, enquanto via meus amigos gargalhando no fundo da tenda. Desde esse dia, meu coracao esta seguro nas maos do divino portador.

2007, fim do verao em Brighton, litoral da Inglaterra. Novamente ouvindo o barulho bravio das ondas que batem na beira do mar, fui abordado por membros do exercito de Jesus. Eu ja tinha lido o jornal deles, onde havia uma comparacao entre ficar bebado ou chapado, e "receber o Espirito Santo", com enorme vantagem para o ultimo. Disse a eles que achei essa abordagem inteligente, por aproximar duas coisas que, na cabeca de muitos, sao separadas por um abismo de distancia: Religiao e diversao. Passados alguns minutos de papo, eles perguntam:
"Voce gostaria que nos rezassemos para voce?"
"Eu vou receber o Espirito Santo?", perguntei, sorrindo ceticamente
"Talvez. Nao podemos garantir o que vai acontecer, mas certamente te fara bem".
Nao tendo nada a perder, e curioso ante a possibilidade da embriaguez divina, aceitei. Um deles colocou a mao na minha cabeca, outro pos a mao em meu peito, e comecaram a rezar, em ingles e em outra lingua estranha que eu supus ser Latim. Terminada a reza, eles perguntam:
"Como voce se sente?"
"Muito bem, mas eu estava me sentindo bem antes da reza, entao nao estou bem certo sobre os efeitos dela..."
Eles riram e continuaram a conversar, e eu percebi que tava querendo rir a toa, nao sei se pela reza ou por esse texto, que comecava a se desenhar na minha cabeca.

Saturday, September 01, 2007

Imagem nao e nada, mas mata a sede dos olhos

Seguem mais algumas fotos das minhas andancas pela Inglaterra. Legal estar descobrindo o prazer de fotografar, com tanta beleza em foco, podendo errar a vontade (benditas cameras digitais!), e sem medo de ser roubado.


Um castelo que a gente visitou no caminho para Liverpool. Eu achei enorme, mas uma brasileira mais rodada afirmou ja ter visto maiores e melhores. Fiquei imaginando o abismo entre as classes na idade media, quanto um aristocrata do castelo se sentia superior a gente comum?



Ja em Liverpool, a cidade dos Beatles. Esse e o club onde eles tocaram trocentas vezes antes de dominarem o mundo. Queen, The Who, Rolling Stones, Oasis, todos os gigantes passaram por aqui.


A reca da escola, num churrasco na mesma. A mulherada da esquerda e brasileira, as jovenzinhas do centro sao espanholas, e tem turco, brasileiros, espanhol e austriaco comprometendo a beleza da fotografia.


Essa e uma das inumeras faculdades de Oxford, existentes desde o seculo 13. Que chinfra, heim? Quase da para sentir no ar os seculos dedicados a transmissao de conhecimento.


Da tradicao para a modernidade, um grafite no centro de Brighton. Se isso nao e arte, o termo precisa de uma nova definicao.