Sunday, April 03, 2011

Do amor à caça, da caça ao amor

Uma idéia masculina muito comum no Brasil é a pressão para caçar mulheres ao sair à noite. Para muitos, voltar para casa sem ao menos uma troca de saliva significa um fracasso, um indicativo de ineficiência como macho pegador. A expressão “ficar no 0x0” já sugere a monotonia de uma partida sem gols, e todos nós passamos por uma fase onde queremos ser grandes artilheiros, admirados e invejados por nossos semelhantes pernas-de-pau.

O carnaval é o estádio perfeito para grandes goleadas, com sua grande concentração de belotas sobrando na área, muitas vezes já quicando meio em zigue-zague por conta do álcool, bastando um toquinho para abrir o placar. Não há espaço para muita conversa, em geral os grandes artilheiros se valem da tática Neandertal: uma marretada (cantada direta e rápida) na cabeça da presa, se sorrir é gol.

Eu nunca tive vocação para artilheiro, pelo contrário, minha tendência sempre foi tentar armar uma jogada bem trabalhada através de palavras para fazer um gol cinematográfico, candidato a um dos mais bonitos de todos os tempos. Ficar no 0x0 era o resultado concreto dessa minha estratégia na maior parte das vezes, acabava desarmado por excesso de firula. A caça, como o futebol, precisa de objetividade.

Mas a verdade é que caçar é bom demais, mesmo quando não conseguimos abater a presa. Não a caça Neandertal, que só tem graça se a bola entra, e olhe lá. Falo da caça sem pressa, com tempo para conversar e saber mais um do outro, fazendo a menina rir e diminuindo gradualmente as distâncias em direção ao gol.

Em conversas com meu pai, um solteirão convicto, ele falava da dificuldade em vestir a camisa-de-força do casamento, em fechar as portas para a caça, para inúmeras possíveis experiências amorosas em prol do pacto de fidelidade com o conjugue. Eu senti isso na pele no meu último namoro. Ao mesmo tempo em que amava minha ex-namorada o suficiente para querer ter filhos e construir uma vida ao lado dela, sentia falta da caça, de poder paquerar as beldades que encontrava pelo caminho.

Os ultra-românticos podem argumentar que eu não amava forte o suficiente, que quando amamos de verdade não queremos ninguém além da pessoa amada. Mas eu tenho a impressão que esse sentimento não dura para sempre. De acordo com Frédéric Beigbeder (um autor francês que curti bastante), ele dura três anos. E é difícil precisar o quanto há de amor e o quanto há de conveniência/obediência às convenções sociais em casais que estão juntos há muito tempo.

Mas agora que estou solteiro e livre para todas as bolas na área que o destino me reserva, sinto falta daquele carinho especial de quem te conhece bem e gosta de você por isso. É a eterna insatisfação do ser humano fazendo o mundo girar e as relações se complicarem. Aquele dengo garantido, a perspectiva de construir uma vida a dois, compartilhando vários momentos especiais que só podem ser vividos por um casal, tendo um no outro o melhor antídoto para a solidão, além das práticas esportivas com mais intimidade e freqüência... Tem coisas que só uma boa relação estável faz por você.