Thursday, October 28, 2004

Dissecando o Descontrole

Ah, os momentos em que a calma me abandona
E com ela meu livre-arbítrio, pois passo
a reagir instintivamente aos estímulos; e meu instinto
pode ser muito agressivo, mesmo com pessoas que gosto

Não sei precisar as causas disso. Mas seu efeito
já gerou muito ressentimento em pessoas que me são preciosas
E quando a calma volta, traz de volta opções de reação mais adequadas
Mas não traz de volta o momento em que eu deveria ter agido de outra forma

O remorso que me invade é proporcional ao descontrole
Tento encontrar justificativas e consigo
Me agarrar nas minhas mentiras para não me afogar no mar de culpa
E nadar lentamente de volta à tranquilidade

A inteligência que me permite perceber isso
É a mesma que me castiga, ao me levar por este caminho
É a mesma que diverte e encanta através das palavras
E também pelas palavras, fere, magoa a muitos...

...Inclusive a mim.

Saturday, October 23, 2004

Da parlosidade

Desde que o homem desenvolveu a linguagem que a pala é um importante instrumento para a realização dos seus desejos. Entenda-se como pala qualquer ocorrência verbal que visa a obtenção dos desejos do parloso. Muitas vezes a pala está associada à mentira, mas nem sempre isso é verdade. De vez em quando a pala é uma verdade, contada de forma tal que leve o ouvinte a fazer ou pensar o que o parloso deseja.

Existem vários tipos de pala. A pala sedutora, também conhecida como "cascata", visa atrair o sexo oposto (ou o mesmo sexo, depende da opção do parloso). A pala financeira objetiva alguma vantagem com o dimdim, seja para pagar menos no ra-rá da conta do bar, conseguir dinheiro emprestado ou mesmo protelar o pagamento do empréstimo já concedido. Tem a pala fanfarrona, onde se desperta a crença nos ouvintes de qualidades ou posses inexistentes no parloso. Já a pala "instinto de liso" visa receber algo de valor desprezível. A pala "advocacia" tenta limpar a barra de um amigo, ou de qualquer um que pague, no caso dos que exercem a profissão. Como se pode ver, a quantidade de tipos de pala é proporcional à pluraridade dos desejos humanos.

O parloso de boa índole, o bom malandro, se vale das palas para benefício próprio, sem prejudicar os outros. Mas há também os parlosos mau-caráter, que usam a pala de forma nociva. Difamação, intrigas, calotes: nessas áreas o parloso canalha tem prazer especial em atuar. Mas não podemos nos esquecer que a pala é um instrumento. Da mesma forma que não faz sentido ser contra a faca por ter gente que a usa para matar em vez de cortar o bife, também é ilógico opor-se à pala pelos patifes que a usam de forma vil. Portanto, viva a pala proferida pelos bons parlosos!

Sunday, October 10, 2004

Semente de Maçã

O frio na barriga da paixão ainda nascente
Me embaça o olhar, as idéias e o conforto
Inquieto, mentalmente te busco
E te encontro sorrindo... apagando tudo ao meu redor

Ouvindo uma melodia qualquer, o violão na mão
Tento libertar meu pensamento de você
Mas ao tocar as cordas eu imagino os seus cabelos...
E a música resultante sequer arranha sua soberania na minha mente

Por fim te encontro, do mesmo jeito que minha memória te guardou
Dividimos idéias, sorrisos e discordâncias
Não sinto a menor vontade de te mostrar que está errada
Sabendo que corro o risco de ao ganhar a discussão, perder o seu afeto

Mesmo assim, sem querer, falo algo que te desagrada
A conversa é encerrada sem que eu entenda o motivo
Meu olho tira a última foto e eu deslizo para longe do seu olhar
Para perto de outras galerias onde eu poderia me distrair...
... Se o quadro do teu rosto não ofuscasse todos os outros.