Tuesday, March 04, 2008

Notas decompostas no tempo

Quanto tempo gasto com as malditas músicas. Inúmeras horas roubadas pelas canções, roubadas dos estudos, dos esportes, dos namoros e outras atividades importantes para o desenvolvimento humano. Para quê? Para saber decorado dezenas de letras que minha pouca afinação me impede de (en)cantar? Para construir identidades etéreas, me sentindo maloqueiro com Racionais, sedutor com Chico Buarque ou religioso com Clara Nunes? Eu me esforço para descobrir as vantagens que isso trouxe. Saber cantar uns versos bonitos, mesmo que desafinados, dá algum ibope com algumas gatinhas. Mas saber dançar forró dá muito mais ibope com muito mais gatinhas. Bom, eu sempre me dei bem em interpretações de texto, e talvez meu queimatempo sonoro tenha ajudado um tanto nisso. Um possível pró, para diversos e concretos contras... Se eu tivesse dividido todo o tempo de escutador em 5 partes, e tivesse gasto 1/5 nos estudos, 1/5 nos esportes, 1/5 dançando forró, para gastar o quarto quinto nos namoros, ainda me sobraria um quinto para escutar o que quisesse, o que seria suficiente para ouvir todas as músicas já ouvidas nesse tempo todo, se não repetisse nenhuma. Muito mais inteligente do que ouvir dezenas de músicas dezenas de vezes... mas nesse caso, eu não saberia nenhuma letra decorada, e as identidades etéreas se dissipariam antes mesmo de se formar, não me sentiria nem maloqueiro, nem sedutor, nem religioso, nem outras dezenas de personagens. Eu olho com inveja para esse eu hipotético, mas tenho a impressão de que ele olharia do mesmo modo para mim.