Tinha uma idéia dentro daquela xícara de café
Uma idéia que piscava, dourada no fundo negro
Piscava tanto que não se revelava
Era preciso firmá-la, mas de que jeito?
Bebi o café e a idéia sumiu
Para reaparecer depois, por alguns instantes,
e sumir novamente.
Continuava a piscar
só que
mais lento
quase definindo
os contornos.
Na segunda xícara,
o piscar
alongou-se.
A idéia se espreguiçava na rede dos meus neurônios
irradiando dourado pelas sinapses desbotadas
e no momento em que eu ia tirar a foto
a idéia caiu
da rede.
Os rastros de dourado
se dissolveram
lentamente
na escuridão
Fiquei de câmera na mão, esperando o retorno da idéia
mas ela não voltou. Nem com mais xícaras.
Quando larguei a câmera, cansado de esperar
Senti um peteleco na orelha
E vi dela escorrerem
gotas de dourado.
Peguei o violão e dos meus dedos saíram melodias luminosas
mas quando quis gravá-las
elas voltaram
ao cinza habitual.
Desisti de registrar a idéia.
Apenas sigo seus rastros
quando ela inventa
de (des)aparecer
numa xícara de café.
Wednesday, May 14, 2008
Tuesday, May 06, 2008
Recife, Marcha da Maconha e a vela que não se apaga
Recife é uma cidade cheia de curiosidades canábicas. Capital do estado do polígono da maconha, a cidade disputa com Porto Alegre o primeiro lugar em apreciadores do tapinha que não dói, mas deixa a boca seca de tanta polêmica. Honrando sua herança colonial holandesa¹, a capital pernambucana sediou no último domingo (04/05) a marcha da maconha de maior apelo das massas (mais de 1000 pessoas, de acordo com o Globo Online) e maior tranqüilidade do país.
Recife, a rocha marítima, em inglês é reef, palavra também usada para os enroladinhos de camarão de Cabrobó, vendidos como joints para os turistas anglófilos nos coffee shops de Amsterdã, e conhecidos como coisinha, mulher de adão, coloseimas, a massa, presença (dentre outros) no estado de Lampião, que também quebra um galho na ausência de isqueiro. A quantidade de usuários na cidade causaria um infarto no Capitão Nascimento – faltariam viaturas e celas para enjaular todos os “financiadores dessa merda”.
De acordo com o anti-herói mais carismático do cinema nacional, ídolo da classe média apavorada², quem usa drogas acende os pavios de bomba da violência, ao dar dinheiro para bandidos. É um fato, mas qual a melhor maneira de lidar com ele? Matar ou prender traficantes e jogar os usuários na cadeia? Não existe time com mais peças de reposição do que o tráfico, e os usuários já mostraram que nem a possibilidade de ter a vida estragada por “férias numa colônia penal” retira deles o hábito.
A guerra contra as drogas é como soprar aquelas velinhas de aniversário que nunca se apagam. E a cada nova flama é derramado o sangue de culpados, suspeitos e inocentes. Enquanto isso, rios de dinheiro caem nas contas dos mega-traficantes de que fala Bnegão, pessoas que não têm seus lares invadidos por policiais do Bope.
A oposição à proibição das drogas não é exclusividade dos usuários. Políticos como Jeferson Péres e advogados como Evandro Lins e Silva concordam que a política atual é um desastre. Sua meta, a erradicação do consumo, é impossível de ser alcançada – sempre houve e sempre haverá pessoas propensas a usar drogas, que não abrem mão desse direito por uma lei que consideram ilegítima.
A legalização aparece como uma alternativa, mas encontra muita resistência. Alguns dizem que “viraria zona”, como se o atual nível de violência fosse um modelo de ordem desejável. Outros apontam para a possibilidade dos criminosos tirarem o prejuízo da não-venda das drogas em outras atividades, como seqüestros e assaltos. Fica parecendo que a proibição é uma maneira de manter a violência em “níveis toleráveis”, já que a maior parte das vítimas não ganha capas de revista, nem passeatas pela paz.
A marcha da maconha veio com o intuito de promover o debate sobre a questão. Há muita irreflexão sobre o assunto, que vai do “maconheiro tem que morrer” ao “vamos babilonizar o mundo”. É preciso dissipar toda essa fumaça que cerca o tema. É preciso sentar o dedo nessa porra de preconceitos.
1: Expressão emprestada do músico e filosófo Domingos Sávio, infatigável defensor do verde.
2: Expressão emprestada do cartunista Arnaldo Branco, criador do Capitão Presença, que aparece na animação da Marcha da Maconha.
Essa reportagem mostra o uso da canabis na medicina popular. Os velhinhos comovem a quem assiste.
Recife, a rocha marítima, em inglês é reef, palavra também usada para os enroladinhos de camarão de Cabrobó, vendidos como joints para os turistas anglófilos nos coffee shops de Amsterdã, e conhecidos como coisinha, mulher de adão, coloseimas, a massa, presença (dentre outros) no estado de Lampião, que também quebra um galho na ausência de isqueiro. A quantidade de usuários na cidade causaria um infarto no Capitão Nascimento – faltariam viaturas e celas para enjaular todos os “financiadores dessa merda”.
De acordo com o anti-herói mais carismático do cinema nacional, ídolo da classe média apavorada², quem usa drogas acende os pavios de bomba da violência, ao dar dinheiro para bandidos. É um fato, mas qual a melhor maneira de lidar com ele? Matar ou prender traficantes e jogar os usuários na cadeia? Não existe time com mais peças de reposição do que o tráfico, e os usuários já mostraram que nem a possibilidade de ter a vida estragada por “férias numa colônia penal” retira deles o hábito.
A guerra contra as drogas é como soprar aquelas velinhas de aniversário que nunca se apagam. E a cada nova flama é derramado o sangue de culpados, suspeitos e inocentes. Enquanto isso, rios de dinheiro caem nas contas dos mega-traficantes de que fala Bnegão, pessoas que não têm seus lares invadidos por policiais do Bope.
A oposição à proibição das drogas não é exclusividade dos usuários. Políticos como Jeferson Péres e advogados como Evandro Lins e Silva concordam que a política atual é um desastre. Sua meta, a erradicação do consumo, é impossível de ser alcançada – sempre houve e sempre haverá pessoas propensas a usar drogas, que não abrem mão desse direito por uma lei que consideram ilegítima.
A legalização aparece como uma alternativa, mas encontra muita resistência. Alguns dizem que “viraria zona”, como se o atual nível de violência fosse um modelo de ordem desejável. Outros apontam para a possibilidade dos criminosos tirarem o prejuízo da não-venda das drogas em outras atividades, como seqüestros e assaltos. Fica parecendo que a proibição é uma maneira de manter a violência em “níveis toleráveis”, já que a maior parte das vítimas não ganha capas de revista, nem passeatas pela paz.
A marcha da maconha veio com o intuito de promover o debate sobre a questão. Há muita irreflexão sobre o assunto, que vai do “maconheiro tem que morrer” ao “vamos babilonizar o mundo”. É preciso dissipar toda essa fumaça que cerca o tema. É preciso sentar o dedo nessa porra de preconceitos.
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1: Expressão emprestada do músico e filosófo Domingos Sávio, infatigável defensor do verde.
2: Expressão emprestada do cartunista Arnaldo Branco, criador do Capitão Presença, que aparece na animação da Marcha da Maconha.
Essa reportagem mostra o uso da canabis na medicina popular. Os velhinhos comovem a quem assiste.
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