Monday, July 31, 2006

O poço encantado

Tão poético era quando mais moço
aquele rapaz de rosto sombrio
andava como se encontrado o poço
encantado desejo da palavra sutil

Tão bela a menina do primeiro verso
que o ego transbordava feito navio
quando se rompe a proteção do imerso
e o mar invade tudo que era vazio

Tão rápido a poesia se transformou
o mar virou sertão que preferiu
o cinismo ao amor que não vingou
amar sempre foi um ato imbecil

Tão demorada a ferida sarou
sertão irrigado por estreito rio
estreita também a poesia ficou
o poço encantado na areia sumiu.

Thursday, July 27, 2006

A soberba humildade

Soberba, um dos sete pecados capitais. Segundo São Tomás de Aquino, o mais problemático, pois impede que se reconheça todos os outros. O elemento que “se acha” muito se empenha pouco em melhorar. Afinal, não há muito o que melhorar, ele já é “O” cara...

Alguns consideram a humildade incompatível com uma auto-estima elevada. Se sua vida vai bem nas diversas áreas que lhe importam, não lhe faltam motivos para mandar a humildade para bem longe, certo ? A soberba é divertida, e a humildade é apenas o refúgio daqueles que não são tão bons quanto você.

Quando nos consideramos de fato bons em algo, a soberba nos tira para dançar, assim como nas vitórias importantes. Poucos recusam o convite. Recusar por quê, se a dança é instigante, embriaga o ego, faz sentir-se importante? Podemos até aparentar modéstia, porque uma arrogância descarada atrai antipatia, enquanto dizemos para nós mesmos como somos os tais.

Há, porém, uma razão soberba para manter a soberba afastada: ela atrai infortúnio. A vida logo procura ensinar aos arrogantes que salto alto não é bom para trilhar seus caminhos. Quantas trajetórias promissoras não foram desperdiçadas pelo deslumbramento? Isso fica evidente em competições. Já observei que o momento em que relaxo por achar que a partida está ganha muitas vezes é seguido de uma virada inesperada. Lidar com derrotas, então, é um problema para os “assoberbados”. Eles procuram, com ansiedade e frustração, uma razão para o seu desempenho pior, porque não aceitam que o desempenho adversário tenha sido melhor por méritos do oponente. Afinal, o oponente não pode ter mais méritos do que eles próprios.

“O sábio abandona a obra assim que ela se termina”. Desapego do resultado. Manter a serenidade quando algo dá muito errado já não é fácil, mas o mais complicado é manter a serenidade quando algo dá muito certo. E é nessa serenidade perdida que floresce o infortúnio, adubado pela arrogância que descuida do que trouxe o bom resultado. A menina está rindo, gostando do papo. No momento em que você “se acha” por isso, o papo começa a declinar, o foco não mais está onde deveria.

Este texto, por exemplo, teria ficado muito melhor se eu não tivesse “me achado” pelo jogo de palavras do título.

Thursday, July 20, 2006

A voz de dentro

A voz de dentro não fala muito alto;
não é aquela que toca na sua mente
o trecho das canções preferidas
ou as conversas de fim de tarde.
A voz de dentro não gosta de chamar atenção.
fala pra quem escuta, sem repetir ou aumentar o tom
o oposto daquela voz que toca na sua mente.
Sempre gritando, clamando por atenção... e consegue
que a voz de dentro se cale, por falta de atenção
ou a falta de atenção nos impede de ouvir o seu falar ?

Quando conseguimos escutar a voz de dentro
convém prestar atenção;
pela raridade do momento
pela tranquilidade da sensação.
Não há tédio quando se a escuta;
tédio é coisa daquela voz
que faz tudo que pode na luta
para afastar o silêncio de nós
porque a ausência de som a apavora.
Mas é só nele que se encontra o remédio
oferecido por aquela senhora
que não fala muito alto, não gosta de chamar atenção.

Friday, July 14, 2006

Brainstorm

Consciência, cara ? Consciência é uma loucura. Neste momento escrevo sem o crivo da censura, o que vem à mente direto para o papel, o chamado Brainstorm. O desafio é não parar o deslizar da caneta sobre o papel. O sentido é prejudicado, mas o tédio é afastado e eu me satisfaço. Já li não lembro onde que Brainstorm é bom para organizar e liberar o fluxo de idéias. Me ocorre que o funcionamento da mente não é lógico, ou melhor, não se reduz ao lógico. Talvez um grande fator de insatisfação mental seja o esforço de reduzir a mente ao lógico. Nossa irracionalidade se revolta com isso, e puxa os cordões de nossos instintos, fazendo-nos pular de um lado pro outro, como marionetes-baratas-tontas. Será ? Eu acho que sim. Agora por exemplo, que finalizei essa idéia, não me vem a mente um tópico relacionado, como seria de se esperar se a mente fosse só lógica. O que me vem a mente é um verso do GOG, que me arrepia: "Moleque um momento, ainda há tempo se conserta/Moleque, um momento, fique atento ouça o alerta/As notícias da favela não são nada animadoras/Há guerra todo, mais cruel devastadora". E na sequência, a mente informa que tal verso foi para driblar a ausência de pensamento do momento. E que tal ausência vem da vontade de se pensar algo interessante, inteligente, LÓGICO. Então voltamos à idéia anterior. Talvez a mente funcione em círculos, ou em pentágonos, hexágonos. Hexa ? Vexame, decepção, cabeçada de Zidane no italiano mamão. Mamão uma ova, o cara foi que garantiu o tetra. Feio que doeu, como costuma ser o futebol da Itália, mas o tetra de 94 também não foi belo. Talvez seja destino, o tetra de todos ser medíocre. Mas a comemoração independe da beleza do futebol. A aula está acabando, boa hora pra finalizar o brainstorm. Na próxima vou cronometrar os minutos, e vender a idéia como solução milagrosa para estudantes tediosos. Vou ficar rico.