Monday, August 16, 2004

E assim caminha a humanidade

A brisa da praia, a água de coco gelada
O coco que caiu a poucos metros do senhor que jogava dominó
Senhor que minutos antes ignorou o menino no sinal
Menino que gostaria de estar na praia, tomando água de coco

Uma embalagem de barra de cereal no chão
Jogada por uma jovem integrante dos vigilantes de peso
A entidade que recusou inúmeras propostas de marketing de um chocolate "light"
O mesmo chocolate que é recomendado em uma das inúmeras dietas

Dietas concebidas por pessoas de colesterol alto
Que gostam de ficar na praia, comendo cereal e tomando água de coco
Pensando na nova idéia "revolucionária" com que enganaram as pessoas
Pessoas que estão preocupadas demais com o cereal e a água de coco para pensar de volta.

Tuesday, August 10, 2004

Tava lendo numa Superinteressante antiga (janeiro de 2003) uma matéria sobre deliquência juvenil, alavancada pelo caso Suzane von Richthofen, aquela que planejou e executou o assassinato dos próprios pais, junto com o namorado e o irmão deste. Interessante como a opinião pública fica chocada quando as atrocidades são cometidas por pessoas de classe média pra cima. A violência dos pobres, dos sem perspectiva, já é esperada e não passa de estatística, quando a vítima é outro pobre. Quando a vítima é da classe média, gera comoção e indignação, como no caso das meninas em Serrambi.

Mas quando os criminosos são da classe média ou alta o quadro é outro. Todos ficam chocados, perplexos. Logo se levanta a possibilidade de insanidade (que alivia muito a sentença), o que quase nunca ocorre nos crimes da "ralé". Como se só os ricos tivessem o direito de ser loucos. Especialistas explicam que a predisposição à violência pode ser uma questão genética, que 1 em cada 100 pessoas apresentam o tal defeito de fabricação, mas só 1 em 1 milhão tem tendência à violência extrema... Outros apontam as falhas na educação desta juventude, que teve tudo permitido e nada negado, e por isso não tem noção de limites, respeito pelos outros ou aspirações além da satisfação pessoal.

Enquanto isso, mais e mais corpos vão pra vala, neste universo paralelo ao nosso, a alguns quilômetros de nossas casas. Os jornais estamparam a cara das meninas em Serrambi, enquanto a cara da menina morta na favela foi estampada com jornais. Mas a opinião pública não se chocou, comoveu ou indignou com este último caso. A maior parte nem tomou conhecimento e os que tomaram, nos 30 segundos dedicados a ela no Cidade Alerta, não distinguiram a árvore anônima em meio a floresta das tragédias. Até porque a floresta é oferecida todos os dias, pontualmente, perto da hora do jantar.

Monday, August 09, 2004

Milagres Humanos

Aquele ímã na geladeira que você nem repara ao abrir a porta
Lhe dá uma sensação familiar, quando registrado pelo inconsciente
Faz com que aquele congelado pareça a comida feita na hora pela sua avó
Assim são os pequenos detalhes que o olho fotografa e a consciência não revela

Tentam adivinhar pra onde vai essa geração sem rumo
Pingando em plantas ilícitas, arte rebelde e filosofia fast-food
A geração que não sente o conforto dos detalhes não revelados
Porque o frenesi dos estímulos destruiu a delicada câmera

A geração que agora se encontra sem forma
Como a água de uma garrafa ao ser jogada no chão
Tanta luta por liberdade... e quando enfim ela é conquistada
Percebe-se o quanto é difícil servir-se da água sem algo que a contenha

Um copo, uma garrafa, um rio, um mar
Todos tem um contorno que delimita sua extensão
Sem este contorno a água se espalharia indefinidamente
Como acontece com essa geração

E então os especialistas recomendam educações mais rígidas
"Deve-se impor limites, não ter medo de dizer não"
Afogando os pais em culpa quando um filho tem problemas com drogas
Os mesmos pais que seguiram os especialistas da época
Quando estes diziam quase o oposto do que é falado hoje

Talvez o problema seja a necessidade de fórmulas mágicas
O milagre do microondas, que transforma um congelado quase estragado num jantar
Transformaria fetos em pessoas felizes e produtivas

Mas parece que a natureza não liga muito para os "milagres" humanos
E por mais sofisticadas que sejam as técnicas de jardinagem
Algumas plantas insistem em apresentar anomalias

Sunday, August 08, 2004

Beleza Depressiva

Os livros de auto-ajuda se amontoam nas estantes
Para ela poucas coisas são mais irritantes
Do que a pena cristã, gratuita e narcisista.

Ela sente pela rua o olhar das pessoas
Ela sabe que mesmo sendo pessoas boas
A olham como se fosse um gato prestes a ser atropelado em plena pista.

Ela não é anarquista, socialista ou capitalista
Ela não é culpada pelas várias vidas destruidas
Ela é absolvida por ser muito bonita.

Já está cansada de em vários despertar a paixão
Cansada de assistir o fogo virar comiseração
Quando tomam consciência de que é uma garota depressiva.

As vezes ela sonha em viver num paraíso pagão
Onde olhará as pessoas nos olhos e elas não hesitarão
Em devolver-lhe o olhar com a clareza que necessita.
Nessas quase duas semanas que tive de férias, assisti a 6 filmes: Dois no cinema e o resto em DVD. Aí vão algumas humildes impressões que tive dos filmes.

  • Tróia: Legal, pela história, pela reconstituição de época, pela mulher que interpreta Helena. Em alguns momentos os diálogos são bobos, abusam dos clichês e algumas cenas de luta são confusas. Apesar disso me proporcionou um bom divertimento.
  • Homem Aranha 2: Legal, mas eu esperava mais. A ação demora pra engrenar e mais uma vez temos diálogos bobos. Ocorrem algumas incoerências em relação às HQs, como a parte em que Peter Parker tira a máscara ao tentar salvar um trem. Preferi o primeiro, mas este também é um bom filme.
  • Quanto Mais Quente Melhor: Muito bom. Engraçadíssimo. Dois músicos desempregados acabam testemunhando um assassinato de gângsteres e tornam-se alvos da máfia. Para escapar, se disfarçam de mulher e viajam com uma banda feminina. Lá conhecem uma cantora, interpretada pela Marilyn Monroe, e passam por situações engraçadíssimas. Ótimos diálogos e atuações, vale a pena mesmo. Em muitas cenas, só de olhar pra cara do Jack Lemon dá vontade de rir.
  • Rashomon: Do diretor japonês Akira Kurosawa, narra a morte de um samurai (a estória se passa no Japão medieval) e o estupro de sua esposa de quatro formas diferentes. As versões dos três envolvidos (o samurai morto conta sua estória através de um médium) e a de uma quarta pessoa que testemunhou o incidente. A idéia central é como diferentes pessoas enxergam o mesmo fato de maneiras diferentes, de acordo com a própria personalidade. Gostei muito, mas demorou um pouco pra capturar minha atenção. Deve ser a influência das mega produções de Hollywood em minha pobre cabeça aculturada.
  • Crepúsculo dos Deuses: Extraordinário. Muito, muito bom. Do mesmo diretor de "Quanto mais quente melhor", Billy Wilder este drama versa sobre uma grande estrela do cinema mudo, que foi esquecida com o advento do cinema falado e se recusa a aceitar isso. Com 50 anos, ela vive num delírio espelhado em quando estava no auge, com 25 anos. Foi o que eu mais gostei de todos esses filmes.
  • O Homem que Matou o Fascínora: Clássico do velho oeste, este filme conta a trajetória de um pacífico advogado, que chega numa cidade onde a lei em vigor é a lei do revólver. Este filme me apresentou o John Wayne, "o maior astro que já apertou um gatilho", que era o Mel Gibson de "Máquina Mortífera" da época. Muito divertido.