Thursday, December 29, 2005

21 anos

21 anos... Esta idade em que o adolecente é subitamente jogado na fase adulta. Já com uma certa distância da eterna brincadeira da infância e bem próximo da doce irresponsabilidade da adolescência. Estou romantizando, reconheço. Recordando com mais cuidado, vejo que a infância e a adolescência tiveram sua cota de angustia, preocupações, frustrações. Acho que o passado, à medida em que fica mais distante, tende a ser enxergado com lentes cor-de-rosa. Os bons momentos parecem irrepetíveis, e os maus momentos bobagens que na epoca não éramos capazes de ver como tais. "Ah, que saudade de quando era menino! Eu era feliz e não sabia"
Ao atingir a idade-embratel, o descaso com o futuro precisa ser trocado pelo compromisso com o amanhã. Claro que esta mudança não se dá automaticamente. Chegar aos 21 não é garantia de preparação para as exigências que se anunciam. E quando o jovem se dá conta de que a partir de agora terá de batalhar pela independência financeira, dá uma saudade danada da época em que a maior preocupação era a prova de química.
Se existisse uma medida para pressão psicólogica, talvez nos surpreendêssemos ao ver que a pressão sentida pelo adulto para arranjar trabalho e pagar suas despesas é a mesma sentida por um garoto de 10 anos ao fazer a prova de sua pior matéria. Esta nos parece bobagem apenas porque já foi superada, e aquela nos amedronta porque não se pode superar um desafio que ainda não veio. Tensão, superação, descontração, nova tensão. A vida segue o ritmo, cabe a nós dançar de acordo.

Tuesday, December 13, 2005

Medo do ridículo

Não digo o que sinto, e sofro com isso
Maltratado pelo "que poderia ter sido e não foi"
Um momento pedindo uma ação que não aconteceu
A cena tatuada na mente
convidando o arrependimento para morar por algum tempo
A energia acumulada, contida e transformada em frustração
As oportunidades desperdiçadas deixam saudades de aventura
Caso retornem, será que as aproveito ?
É preciso perder o medo de parecer bobo
e desfrutar da liberdade que aos bobos se oferece

Thursday, November 17, 2005

A luz que se perdeu

Queria conseguir desvendar
o mistério de minha mente.
Alguma ferramenta para revelar
as sinapses que não chegam à consciência
mas modelam inúmeros vasos
que despejam devaneios confusos
imagens de um passado recente;
de desejos que não chegaram ao ato
de resgates de um passado acabado
dispersando a atenção do presente.
Uma inquietação que não se torna aparente
e talvez por isso seja tão difícil eliminar.
O afundar dentro de si mesmo
pouco enxergando nas águas turvas
guiando-se por sinais ilusórios
perdendo-se no jogo de espelhos.
Falta vontade, habilidade ou sabedoria
para reencontrar a luz que se perdeu ?

Sunday, September 11, 2005

Crise de Identidade

O que sou, o que fui, o que serei...
lembranças entristecem comprovando que não evoluí.
O que antes alegrava hoje não passa de um ato mecânico
O brilho do passado lança sombras no presente
Insisto em tentar nadar em águas que a correnteza já levou

O que seria agora se tivesse agido diferente
O futuro cobrará as experiências que evitei.
O longo tempo dedicado a expandir os limites da mente
deixou o que, além de lembranças prazerosas
e ferrugem no raciocínio ?

A eloquência de que sinto falta terá sido mera interpretação ?
Ilusão de adolescente que acreditava poder ser o que quisesse ?
De uns anos para cá muita coisa ficou pelo caminho;
um pedaço de personalidade aqui, outro ali...
Deixando o eu fragmentado, em busca de integração

Crise de identidade, outra vez ? Tô ficando velho pra isso.

Sunday, June 12, 2005

Falta de Inspiração

Ah, a falta de inspiração
Sugando as cores dos dias e o brilho de sua passagem
Alargando vazios onde nada floresce e os minutos aceleram
Períodos de que se lembra pouco

Saudades do entusiasmo, recordações antigas
Coloridas pela imprecisão da memória
Enfraquecida por prazeres fugazes
Que não mais entusiasmam

Sentado na poltrona da sala de jantar
Com o tempo sendo gasto pela variedade de canais
Permaneço em torpor

Esperando algo que só acontecerá por minha ação
Trasnpiração necessária para resgatar a inspiração
Que devolverá aos dias o brilho e a cor.

Wednesday, March 30, 2005

Obrigado, Dona Chuva

A chuva cai. Não veio "como gotas em silêncio, tão furioso...". Não. Veio trazendo o gostoso som da Natureza, envolvendo os ruídos da cidade, que mesmo ao dormir (são 4:27), "barulha" alto. Veio num tom baixo, que foi aumentando sem pressa, sem necessidade de afirmação. Talvez tenha atingido seu auge neste exato momento, já que não ouço mais o barulho dos ar-condicionados que minha janela aberta facilita a entrada. Sim, está mais forte agora, dominou completamente os ruídos da cidade. Um trovão se faz ouvir.
Ouvir a chuva, não lembro de ter parado pra fazer isso. Agradável surpresa, a chuva me trouxe Tranquilidade. Talvez por suprimir os ruídos da cidade, por me permitir passar alguns ótimos minutos em silêncio, ouvindo-a. Por baixar o volume dos meus pensamentos. Por me fazer sentir o gosto, mesmo que por breves instantes, de uma serenidade plena, de uma mente vazia. Marteladas do desejo dissipadas.
Obrigado, Dona Chuva. Volte quando puder, de preferência quando eu estiver abrigado.

Sunday, March 06, 2005

Cultivo do Desapego

Não faz sentido baforar culpa se não parei de fumar
Não faz sentido erguer muros em torno da casa que habitarei por pouco tempo
E tudo é pouco tempo, se a vida é pouco tempo
O risco do assalto não tem o direito de impedir a liberdade, apesar de o fazer
O conforto da segurança pode resultar numa vida amarga
Com os sonhos trancados num cofre o qual se evita passar perto
No máximo projetados no cinema do devaneio

Preocupações com o futuro são necessárias, mas vão muito além do necessário
Tirando a cor do presente que a vida nos oferece
Se eu morrer amanhã não estarei pertinho do céu
Pois o peso do cofre selado continuará me prendendo ao chão

Idealismo ingênuo talvez... talvez a astúcia esteja agora
na fila dos aposentados, lamentando, além da pouca renda,
A perda das chaves do cofre, esquecidas pela sua esperteza

Thursday, February 24, 2005

Desarmonia com o Tempo

As horas passadas dando a sensação de inutilidade
Os períodos em branco, quando a vida parece se sufocar
Esperar par agir, agir para esperar... tão simples e tão difícil
Quando o que se deve, o que se deseja e o que se pode fazer
Desfilam na mente, dificultando a escolha

Porque escolher implica em excluir, e não sou bom com exclusões
As excluidas no desfile volta e meia me importunam...
As ouço, consolo, prometo atendê-las logo...
Deixando a escolhida enciumada por só estar presente em corpo

Quando inventarem disciplina pra vender, vou gastar a grana que tiver
Como as chances são remotas, resta o esforço do hábito que demora
a dar resultado. E resultados que demoram não estimulam o meu esforço
Talvez eu devesse cultivar bonsais como hobby

Wednesday, February 09, 2005

Devagar na Ponte

O ar entra, com alguma dificuldade
Longe da altitude, mas no alto do cansaço de fim de noite
Aprecio o clarear na ponte. Já faz tempo...

A visão me manda para o passado por instantes
Onde os perigos eram fascinantes, os riscos desafiantes...
Ao andar pela mesma ponte, já de volta ao presente
A rota mais segura me parece a mais atraente

O tempo necessário para as coisas por fazer
Exige disciplina, foco, sobriedade
Não da mais para vagar sem rumo pela cidade
Apreciando tudo aquilo que através de planos não se pode ver

Distraido com tudo isso, quase sou atropelado
Por alguém que não tem tempo para andar mais lentamente
Pressa que cada vez mais me leva para o seguro lado
Deixando a criança em mim frustrada, lembrando a sensação ainda recente

Por isso prossigo devagar na ponte
Criança quer ver sol perto de rio... o mesmo de anos atrás
E criança esperta com raiva é o perigo