Saturday, May 27, 2006

Manutenção

A conquista é estimulante. Qualquer conquista. Emprego, afeto, status, mercado, poder. Há um objetivo em mente, estratégias para alcançá-lo. Enfim, chega-se aonde quer. E agora? Agora entra em cena a tal da Manutenção, sempre a exigir uma contribuição, tal qual um fiscal da Receita Federal. Bastam algumas faltas com ela para todas as conquistas irem por água abaixo. Ela não tem muita paciência para caloteiros.

Os motivos do calote não importam muito, porque dona Manutenção parte da idéia que sempre há algo que você pode fazer para pagar o imposto que ela cobra. Se não o fez, é porque não era importante o suficiente. Se não é importante o suficiente, não há motivos para manter.
Não dá pra tirar a razão dela. Em última análise, é isso mesmo. Alguns percebem isso logo, e agem de acordo com as regras da Dona. Há, porém, os que têm maior obediência a uma outra senhora, chamada Liberdade. Tão permissiva quanto Manutenção é intransigente, ela está sempre a indicar caminhos diferentes, que muitas vezes passam longe dos pedágios de Manutenção. As pessoas com preferência por Dona Liberdade acabam castigadas por Dona Manutenção, com a perda de suas conquistas.

É uma maneira mais excitante de se viver, diriam alguns. O movimento de perda e recuperação das conquistas parece bem mais aventureiro do que a segurança da conquista que persiste no tempo, protegida por Manutenção. Mais excitante e mais doloroso, por ter que enfrentar a dor da perda das conquistas diversas vezes.

Pesquisas apontam que muito de nossa personalidade depende mais dos genes do que das experiências. Deve haver um cromossomo responsável pela preferência entre Manutenção e Liberdade. É a desculpa perfeita para quem não quer mudar.

Para os que querem mudar, o carimbo genético tem quer se desconsiderado. Afinal, a imagem que fazemos de algo tem muito mais efeito sobre nós do que o algo em si. Se acho Genética uma bobagem, não tenho porque acreditar na tirania de um cromossomo. Se não acredito, não existe para mim. Logo, a mudança é possível.

Da possibilidade à concretização, vai um longo caminho. A ser preenchido com estratégias, para alcançar o objetivo em mente. Chegando aonde se quer, impossível não perguntar: e agora ? Talvez seja o caso de relembrar os caminhos percorridos, e honestamente agradecer a oportunidade da viagem.

2 comments:

Anonymous said...

Com tempo a gente acaba percebendo que o prazer imediato que a "Liberdade" traz não tem o mesmo valor que a satisfação alcançada pela "Manutenção". E mais, ninguém vai querer perder de buchuda pra um cromossomo "avesso à responsabilidade", vai?
Cheiro.

Anonymous said...

Pois é, jovem, como bem o sabes, eu sou do time da Manutenção. Mas creio fortemente que, à medida que alcançamos patamares mais altos de conquista, nossa Liberdade aumenta, pois temos novas opções de escolha; surgem realidades que não existiam antes para nós.

Abraços!
Silvio.