Tuesday, August 10, 2004

Tava lendo numa Superinteressante antiga (janeiro de 2003) uma matéria sobre deliquência juvenil, alavancada pelo caso Suzane von Richthofen, aquela que planejou e executou o assassinato dos próprios pais, junto com o namorado e o irmão deste. Interessante como a opinião pública fica chocada quando as atrocidades são cometidas por pessoas de classe média pra cima. A violência dos pobres, dos sem perspectiva, já é esperada e não passa de estatística, quando a vítima é outro pobre. Quando a vítima é da classe média, gera comoção e indignação, como no caso das meninas em Serrambi.

Mas quando os criminosos são da classe média ou alta o quadro é outro. Todos ficam chocados, perplexos. Logo se levanta a possibilidade de insanidade (que alivia muito a sentença), o que quase nunca ocorre nos crimes da "ralé". Como se só os ricos tivessem o direito de ser loucos. Especialistas explicam que a predisposição à violência pode ser uma questão genética, que 1 em cada 100 pessoas apresentam o tal defeito de fabricação, mas só 1 em 1 milhão tem tendência à violência extrema... Outros apontam as falhas na educação desta juventude, que teve tudo permitido e nada negado, e por isso não tem noção de limites, respeito pelos outros ou aspirações além da satisfação pessoal.

Enquanto isso, mais e mais corpos vão pra vala, neste universo paralelo ao nosso, a alguns quilômetros de nossas casas. Os jornais estamparam a cara das meninas em Serrambi, enquanto a cara da menina morta na favela foi estampada com jornais. Mas a opinião pública não se chocou, comoveu ou indignou com este último caso. A maior parte nem tomou conhecimento e os que tomaram, nos 30 segundos dedicados a ela no Cidade Alerta, não distinguiram a árvore anônima em meio a floresta das tragédias. Até porque a floresta é oferecida todos os dias, pontualmente, perto da hora do jantar.

2 comments:

D Mingus said...

Belo texto, menino Bernardo... a única atenção que a morte de algum pobre consegue ter na mídia é aquela de relance... e a única (e última) notoriedade alcançada é a foto de um corpo vazado de bala estampado num jornal assim chamado "popular"...

Rafael said...

É foda...