Sunday, March 05, 2006

Quinta-feira pós carnaval, aula de literatura portuguesa. A professora tinha pedido para procurar cantigas de amor, de escárnio, de amigo, de mal-dizer... estamos estudando o Trovadorismo. Eu, como bom folião, logicamente nem toquei em livros durante o carnaval. Eis que ela começa a chamar um por um, perguntando sobre a pesquisa:
- E você, Bernardo, o que procurou ?
- Bem professora, devo reconhecer que não procurei nada, porque priorizei o carnaval em detrimento dos compromissos acadêmicos.
(risadas abafadas se espalham pela sala)
- Ah é, né ? Pois então você vai fazer uma cantiga de amor, tendo como tema o carnaval, para próxima aula.
Que maravilha! Fazer a cantiga nem foi problema, a bronca foi ir pra ufpe num sábado, pra ter aula das 7 às 13h, já derrubado pela virose pós carnaval. Mas consegui, heroicamente, honrar meu compromisso.
Eis a cantiga:

Nada além de um devaneio

Tantas ladeiras para fugires do meu olhar
agitado como um frevo, a te buscar na multidão
O calor não incomoda quando noto a tua mão
empunhando o estandarte do bloco que está a tocar
"Você diz que ela é bela, ela é bela sim senhor..."
Tão bela que não faz idéia de como é grande o meu amor
E continua, majestosa, com seus divinos passos a me maltratar

Deus, como queria, a ti na dança me igualar
Fazer o povo parar para acompanhar nosso gingado
Faria tudo para me livrar destas pernas de desengonçado
E contigo arrancar aplausos e assobios da multidão a gritar
Talvez assim olharias pra mim com algum desejo...
E quem sabe, algum dos passos terminaria num beijo
E Olinda ficaria pequena, para tanta alegria abrigar

Sei, no entanto, que isso nunca passará de um devaneio
Me contento em te admirar com o fascínio que teus encantos exigem
Trato a ferida em meu peito com algumas bebidas que dão vertigem
Espero você terminar, e à casa retornar em seu tranquilo passeio
Também eu retorno ao lar, cambaleando pelo álcool e pelo vazio
que tua ausência me traz à alma, soprando-lhe um vento cortante e frio
que suportarei até minha morte, ou até tua morte, o que vier primeiro
Mas disso, ó minha amada, jamais saberás; não te trarei nenhum receio

4 comments:

Anonymous said...

Acho que quase todas as vezes que você contou essa história eu estava por perto, se eu escutar(ou ler) mais uma vez decoro, mas enfim, vim aqui pra ver como terminou a história. Agora só falta saber o que a professora mercenária achou, certo?

Anonymous said...

Você deveria esquecer de procurar cantigas e devanear mais vezes.

Anonymous said...

Deu pra notar realmente que fazer a cantiga não foi problema.
Muito legal!
Parabéns!

Alexandre said...

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