Thursday, July 27, 2006

A soberba humildade

Soberba, um dos sete pecados capitais. Segundo São Tomás de Aquino, o mais problemático, pois impede que se reconheça todos os outros. O elemento que “se acha” muito se empenha pouco em melhorar. Afinal, não há muito o que melhorar, ele já é “O” cara...

Alguns consideram a humildade incompatível com uma auto-estima elevada. Se sua vida vai bem nas diversas áreas que lhe importam, não lhe faltam motivos para mandar a humildade para bem longe, certo ? A soberba é divertida, e a humildade é apenas o refúgio daqueles que não são tão bons quanto você.

Quando nos consideramos de fato bons em algo, a soberba nos tira para dançar, assim como nas vitórias importantes. Poucos recusam o convite. Recusar por quê, se a dança é instigante, embriaga o ego, faz sentir-se importante? Podemos até aparentar modéstia, porque uma arrogância descarada atrai antipatia, enquanto dizemos para nós mesmos como somos os tais.

Há, porém, uma razão soberba para manter a soberba afastada: ela atrai infortúnio. A vida logo procura ensinar aos arrogantes que salto alto não é bom para trilhar seus caminhos. Quantas trajetórias promissoras não foram desperdiçadas pelo deslumbramento? Isso fica evidente em competições. Já observei que o momento em que relaxo por achar que a partida está ganha muitas vezes é seguido de uma virada inesperada. Lidar com derrotas, então, é um problema para os “assoberbados”. Eles procuram, com ansiedade e frustração, uma razão para o seu desempenho pior, porque não aceitam que o desempenho adversário tenha sido melhor por méritos do oponente. Afinal, o oponente não pode ter mais méritos do que eles próprios.

“O sábio abandona a obra assim que ela se termina”. Desapego do resultado. Manter a serenidade quando algo dá muito errado já não é fácil, mas o mais complicado é manter a serenidade quando algo dá muito certo. E é nessa serenidade perdida que floresce o infortúnio, adubado pela arrogância que descuida do que trouxe o bom resultado. A menina está rindo, gostando do papo. No momento em que você “se acha” por isso, o papo começa a declinar, o foco não mais está onde deveria.

Este texto, por exemplo, teria ficado muito melhor se eu não tivesse “me achado” pelo jogo de palavras do título.

1 comment:

Anonymous said...

Há quem tenha orgulho de ser humilde!

Esse eu num vou elogiar muito, não, pra vc num ficar "se achando o cara".

Silvio.