Tuesday, August 08, 2006

Ansiedade de Desempenho

Algumas pessoas não se sentem bem se não estiverem no controle. Outras precisam brilhar todo tempo. “Holofotes, por favor, não me deixem ficar triste”. Existem os que desabam se não fazem tudo da melhor maneira possível. E há os que não se importam se algo não está da melhor maneira, mas se condenam com torturas paralisantes se algo está abaixo do regular.

A preocupação com o desempenho tanto pode melhorá-lo quanto piorá-lo. Cada atividade exige determinado equilíbrio entre estresse e relaxamento, para correr bem.
Terminado o ato, com resultado abaixo do esperado, começa a projeção do que estava errado, para uma melhora futura. Processo saudável, evolutivo, mas angustiante para aquelas pessoas que sofrem com a ansiedade de desempenho. Cada erro é uma culpa, um espaço onde se falhou ao ocupar. Cada culpa se dilata durante a projeção, com a cena do que deveria ter sido feito. “Isso é uma bobagem, o que passou, passou; deve-se deixar ir embora”, nos recomenda o bom-senso. Mas a mente de muitos parece programada para não atender às recomendações.

Pessoas com ansiedade de desempenho são receosas em sair de seu território habitual. Novidade e erro costumam andar juntos. Por isso preferem se dedicar a poucas atividades, as que já dominam. E sofrem com a vontade de fazer o que não sabem, reprimida pelo medo da frustração decorrente do desempenho ruim.

Lembro que, quando criança, sempre ficava de fora quando a turma jogava futebol. Lembro que a coordenadora da escola, observando meu isolamento, me incentivou a participar: “Depois, quando a gente cresce, quer voltar a esses momentos de criança. Se prive não...”. Dos momentos que não me privei, muitos nem lembro mais, e os que lembro me confortam com a sensação de algo preenchido. Já o desconforto do vazio dos momentos em que me privei, esse não me deixa esquecer. Daí a necessidade de se marcar o futebol com meus amigos perna-de-pau. Porque minha ansiedade de desempenho não me deixa jogar com quem manda bem, e por querer tentar, simbolicamente, preencher a lacuna do passado no presente. Preferencialmente, marcando o gol da vitória que vai impressionar a menina bonita a olhar a partida.

1 comment:

Anonymous said...

Vou pensar sobre isso nos próximos dias...


Silvio.