Wednesday, February 07, 2007

Carnaval fora de órbita

A pancadaria na orla de Boa Viagem, no show de Ivete Sangalo, teve divulgação nacional. Após 3 anos sem trio elétrico na praia mais famosa de Recife, o tumulto deu fortes razões para as prévias carnavalescas continuarem longe do mar preferido dos tubarões. O saldo foi de 150 ocorrências policiais na delegacia de Boa Viagem (o triplo do normal), um homem baleado e cerca de 20 feridos, além da depredação de bancos e banheiros públicos.

Tão ferida quanto os 20 ficou a imagem de Recife – a barbárie de Boa Viagem alertando sobre o que pode acontecer no carnaval da cidade. A prefeitura deve estar se lamentando por não ter deslocado mais policiais para cobrir o evento, de modo a evitar o filme queimado que pode afastar turistas.

Tanto os organizadores do bloco Balança Rolha, responsável pela vinda de Ivete, quanto a Secretaria de Defesa Social admitiram que subestimaram o público da festa – eram esperadas 200.000 pessoas, apareceram cerca de 500.000. Realmente, era difícil prever que uma artista obscura como Ivete Sangalo iria atrair tanta gente. Mas o organizador do bloco, o deputado André Campos, disse que mesmo que o público fosse metade do esperado, ainda assim o policiamento seria insuficiente.

A violência em Recife chegou a um ponto em que qualquer multidão desperta receios. Há quem responsabilize a ausência/ineficiência da polícia como a grande culpada. A impunidade para os criminosos faz com que o cidadão comum veja os direitos humanos com ironia – o criminoso desrespeita os direitos humanos e é protegido por eles. A impunidade joga álcool na fogueira da vingança, alimentando o discurso de que “bandido bom é bandido morto”.

Não é preciso muito esforço para ver a importância que a (falta de) educação tem nesse quadro. E essa lacuna é observada mesmo entre os que freqüentaram os melhores colégios, as melhores universidades. As pessoas estão cada vez mais míopes para as necessidades do outro – normas básicas de convivência deixaram de ser praticadas. E não há indício de melhoria geral, não enquanto vigorar o “consiga o que queres a qualquer preço, passando por cima de quem estiver no caminho”. Não enquanto a Ética continuar sendo um conjunto de princípios bonitos que não se aplicam à realidade.

Enquanto isso, brinquemos o carnaval – torcendo para que não chovam garrafas.

4 comments:

gmarquim said...

Mudamos os acessórios do Carnaval. Ao invés de confetes e serpentinas, temos, agora, garrafas e balas perdidas...

Inté...

Anonymous said...

É, mas essa onda de carnaval com cordão de isolamento nunca funcionou por aqui...desde o recifolia...E ela resolveu voltar com esse tipo de 'carnaval' pra cá. O que me dá mais raiva é que a mulher ainda foi falar que não volta ao recife enquanto estiver 'violento' e com falta de policiamento. Melhor que não volte.

Laura said...

Nenhuma violência é maior do que a exclusão.

Dos 19 feridos, um acabou de morrer aqui.

Marcia Moraes said...

O que eu vi nos meios de comunicação foi uma ANIMALIZAçÃO DOS BANDIDOS. é muito facil falar da violência do carnaval! E a violência cotidiana!? Quem fala bandido, fala também de exclusão social!

Acho este tipo de carvanal mt interessante pois ele representa a segregação social q se vive no Brasil, no Nordeste principalmente!

De um lado os que podem pagar, do outro, os que não podem. Sabendo-se q é mt NATURAL esta separação! Afinal, pobre tem que ficar com resto!

O que é + preocupante tb é ver q nossa terra conhecida pela nossa diversidade cultural, deixa tb espaço para "a apreciação" de tal "cultura baiana". Nessas horas, ninguém fala porque n se escuta musica pernambucana nas radios de Pernambuco! Porque temos que ver o brega na televisão o tempo inteiro! Queria ver se a confusão seria a mesma numa roda de ciranda!!

O que eu vi pela televisão é gritante, principalmente, qd se mora fora ha mt tempo e so se faz confirmar o carater excludente do nosso pais. é triste de me dar conta q me desacostumei a ver pobreza :/

Muito intesserante de ver tal jornalista dando "aula de moral" para "tais bandidos". Bandido tb é o tal jornalista e tal emissora que exploram a violência como se fosse marca de batom! O tal jornalista conhecido por seu carater se sente no direito de fazer o q quiser.

Imagino q no bairro de classe média alta de Recife, tal jornalista não veja tantos pobres. Ah, talvez, a empregada doméstica, o porteiro do prédio, uns malas q pedem dinheiro no sinal vermelho. Ah, ainda n temos estacionamento de helicopeteros! Mesmo se tivessemos, uma grande parte da nossa classe m*rda falida, n teria meios!!

Indigna Bernardo, tudo isto, mas o tem-se mt coisa para se questionar não so na "terras dos altos coqueiros"....