Tuesday, July 10, 2007

O cara chamado O Rafa

O cara se foi. Rafael Virgínio Torres, mais conhecido como O Rafa, morreu nas vésperas da minha viagem à Inglaterra e do seu aniversário de 25 anos. Foi o segundo amigo muito próximo que desencarnou prematuramente. O primeiro, Felipe Braga, sofria de leucemia e sua saída deste mundo era anunciada pelo próprio, que tinha plena consciência disso. O Rafa também tinha uma doença rara. Mas ninguém imaginava que ela pudesse tirar sua vida tão cedo, o ataque cardíaco fulminante pegou todo mundo de surpresa.

Durante minha festa de despedida, ele sentiu dores e achou que era gastrite. Não era, era o coração mandando o alerta, e esse conhecimento tardio traz uma dor extra para os que estavam presentes, que poderiam tê-lo levado para o hospital a tempo se soubessem, e para os que saberiam o que fazer caso estivessem presentes, mas só tomaram conhecimento do caso quando o tempo dele já havia se esgotado.

Lembro-me do início do meu tempo compartilhado com ele, quando eu era um nerd iniciante querendo saber mais sobre RPG, e ele um nerd mais experiente na arte de viver aventuras em mundos imaginários. Ambos passamos pela libertação da nerdice atraves do rock e seu tão conhecido pacote. O Rafa já desenvolvia seu enorme talento musical em bandas folclóricas, como Trissomia e El Matador. Era o cara que ia para rodas de choro com a camisa do Ramones (na verdade, ele usava essa camisa para quase tudo que fazia). Até hoje sei tocar um trecho de Jacob do Bandolim que ele me ensinou, entre cigarros e pedestres da Av. Inácio Monteiro.

Com a Mombojó, O Rafa ficou famoso. Eu o chamava de cenoso, e morria de inveja do sucesso que ele fazia com as gatinhas culturais do Burburinho/Capitão Lima. Ele dizia que eu era uma promessa da cenosidade, e deveria voltar aos holofotes. Eu já não o via com tanta frequência, o tempo do cara estava tomado pelos seus diversos trabalhos musicais. Há tempos vinha tentando marcar uma sinuca com ele. Poderíamos ter jogado na minha despedida, mas não jogamos, acabou não acontecendo.

O que ainda aconteceria na vida do cara é uma enorme interrogação, que traz consigo um doloroso vazio. Mas a grandeza da interrogação é por conta da exclamação, muito maior, que foi sua vida, tocada com a sensibilidade de seu ouvido absoluto. O choro aqui foi grande, mas lá onde ele está, ao lado daqueles bambas todos, a melodia deve estar emocionando até o tempo que o levou.

16 comments:

Unknown said...

Nossa uoly, espero q vc tenha feito uma boa viagem, o enterro foi doloroso demais. Tia Ivone tava irreconhecível acho q tomou algum sedativo. Filipe se vestiu de sobriedade e sofrimento que roupa de luto nenhuma desse mundo imitaria. A Ceci era pranto e amor. Enterramos, cada um dos presentes, um pedaço de nossos corações sem infarto junto com o RAFA. Choro assim como vc os caminhos do destino, mas agradeço a deus por te-lo tido como amigo. Uoly, é cabeça pra frente e valeu o desabafo, me senti contemplado quando vc falou dos que não estavam lá no seu aniversário. é cabeça fria e paz meu velho amigo. tudo de bom nessa viagem e faça ela valer a pena!

Anonymous said...

Não te conheço, não conheci o rafa... não curto mombojó, e nem nada no mesmo estilo...
Mas mesmo assim fiquei triste com o acontecimento... pelo que eu vi, o rafa parecia ser um cara muito gente boa... poderia ser concerteza um de meus amigos. Fiquei triste mesmo não o conhecendo.
Mas como você disse "O choro aqui foi grande, mas la onde ele esta, ao lado daqueles bambas todos, a melodia deve estar emocionando ate o tempo que o levou."




abrçs

Bernardo Jurema said...

sou amigo dos meninos - o rafa inclusive -, e já não moro em recife. gostei de ter lido o teu texto (colocaram o link na comunidade da banda), está muito bom, sincero. bela homenagem. valeu. boa viagem.

Anonymous said...

Bernardo, filho, o Rafa veio aqui plantou algumas sementes e foi para outros planos continuar semeando. resta oas amigos, fazer germinar aqui em quipap� ou london.
ele estar� vivo. estarei sempre com voc� hoje e quando voc� precisar. tio marcelo.

Anonymous said...

Bernardo, filho, o Rafa veio aqui plantou algumas sementes e foi para outros planos continuar semeando. resta oas amigos, fazer germinar aqui em quipap� ou london.
ele estar� vivo. estarei sempre com voc� hoje e quando voc� precisar. tio marcelo.

GÊNERO CINEMATOGRÁFICO said...

Bernardo,
perder é lasca! Perder um amor, um amigo... um filho, peloamamordedeus! imagino que seja pior que a própria morte! Nenhuma mãe merece essa dor.Daí, como uma da espécie, penso na mãe do Rafa. E só em pensar dói. Dói que só perder o bem. Dói demais. Fico pensando também na comoção que a morte do Rafa gerou na nossa pequena-grande Recife-Olinda. Minha filha, aos 14 já é fã do Mombojó e do estilo culturete dos meninos ao estilo. Mas ela não o conhecia e ficou muito triste."Poxa mãe ele era tão novo!". Daí o pensamento da comoção mais geral: era pq o Rafa era "cenoso"? "famoso"? Referência? Jovem demais? Bom demais? Músico demais? Amigo demais? Realmente isso num tem a menor importância. Pq não se entende amar, menos ainda perder... Torço para que vc faça essa transição da dor, tão simbolicamente numa outra passagem, num momento de crescimento, de distância da língua mãe, da própria mãe, da nossa cidade, em busca de um outro olhar, que de verdade será sempre o mesmo: o da beleza do bem.
Grande Bernardo.
Gosto muito do seu blog.
abraços
Cynthia Falcão.

GÊNERO CINEMATOGRÁFICO said...
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Anonymous said...

Bernardo,

Estava para ler seu texto desde ontem, mas não consegui, absorvida pelo trabalho, pela vida corrida, pelo filho gripado, enfim, pelo simples fato de estar viva e tentando viver. Percebi que não estava respirando, e, pensando sobre a morte/vida, lembrei de um texto de autoria atribuída a Pablo Neruda, que provavelmente você deve conhecer. Caso não o conheça, segue abaixo.
Espero que este texto inspire sua nova vida, que você respire e se permita a oportunidade de transitar no pensamento - desta vida tão boa, mas ao mesmo tão instantânea, para refletir, reviver momentos que foram especiais – e, enfim, viver esta nova realidade de forma plena.

Parabéns pelo texto: lindo, poético, emocionante. É difícil pensar que um dia as pessoas amadas não estarão mais ao nosso lado...Um beijo e boa vida!


QUEM MORRE?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias se queixando da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente quem abandona um projeto antes de inicia-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que não sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.

(Texto com autoria atribuída a Pablo Neruda)

Anonymous said...

Bernardo: certa vez, quando uma amiga jovem morreu, escrevi revoltado: "Se Deus escreve certo por linhas tortas, deveria treinar caligrafia".
Depois veio o baque da morte do meu irmão, seu tio. Aí um guru indiano disse no velório: "O que importa não é a extensão da vida, mas sim a qualidade dela". Aquelas palavras me confortaram bastante, já que a qualidade da vida do Rodrigo foi enorme.
A gente nunca está preparado para mortes prematuras (nem para as outras, talvez). Mas devemos temperar a dor com uma certa dose de serenidade. Embora seja difícil achar uma explicação "lógica", podemos pensar, como você disse, que a roda musical deve estar animada lá em cima.
Um abraço, seu pai.

zenzi said...

bernardo, meu querido. lindo seu texto. lemos hoje na hora do café, mamãe se emocionou muito. aproveite a sua viagem e não se preocupe que rafa está muito bem agora. e pode ter certeza que estará sempre por perto protegendo a gente. afinal, é isso que um anjo faz.

um abraço,
a ceci.

Unknown said...

Bernardo,

lindo texto, lindo . . .

conforto para os que ficam, e muita LUZ pra vc ae meu chapa

CARIOCA

Anonymous said...

Oi jovem B
Tava tomando ar para comentar esse texto. Que caiu em mim quase como uma absolvição, expurgando a dor do trauma (p mim é a palavra que mais se encaixa). Essa semana foi muito difícil mesmo, cada um carregando seu silencio, o olhar perdido nas lembranças, q sempre deixam um sorriso no canto da boca entre as lágrimas, todas são massa, tem luz, tem o Rafa, quem nesse mundo tem alguma lembrança fuleragem do cara?
Toda morte trás um “se”, para nós que estávamos ali o “se” pesou mais. Mas no final das contas nenhum “se” muda fatos, e as coisas acontecem quando e como devem acontecer. Para mim foi uma honra dividir as ultimas horas, sorrisos, gréias, cretinices, comida... com o amigo q mesmo tão ausente conseguia ser presente (e é assim q vai continuar sendo). E é a vc q sou grata, por ter conseguido reunir os brodagens naquele momento, e nos ter dado essa oportunidade.
Hj a festa é dele por direito. E por dever vamos comemorar a passagem desse ser nas nossas vidas terrenas. Sei q vc ai, mesmo longe, ta em sincronia com nossos sentimentos, portanto tb vai estar presente.
Fique bem e em paz, mas a Cretina (como vcs 2 gostavam de me chamar) aqui já ta com saudades das suas criticas sempre amorosas ¬¬.

=*******

fernando said...

Bernardo
Eu sou o pai de Rafa. Sinto não ter podido te conhecer. Seria prazer grande conversar com alguém que escreve tão bem e que gostava tanto de meu filho. Morreu uma pessoa boa e quendo isso acontece o mundo fica menos bom.
Queria te pedir licença para colocar o texto que escrevi para o "santinho" da missa de 7º dia, em sua honra e homenagem, porque fala de meu sentimento e de nossa dor.
Rafael
É aquele que partiu e não se foi porque continua habitando entre nós.
Seus olhos se fecharam para sempre mas seu olhar continua a cruzar com o nosso como a nos dizer da vida.
Sua boca emudeceu e imobilizou-se mas ainda podemos ouvir suas palavras e nos alegrar com seu sorriso.
Seus lábios que já não mais podem beijar mas nos podem fazer ouvir o som argentino de sua flauta e a voz profunda soprada em seu trombone.
Seus dedos imóveis já não podem tanger as cordas do violão ou do contrabaixo mas ainda fazem vibrar as fibras de nossa alma em melodias e acordes que nos arrancam lágrimas que não se sabe se de alegria ou de tristeza.
Seus ouvidos já não podem mais ouvir mas podem nos fazer sentir sua música que nos fazem acreditar na imortalidade da Arte.
Seu coração parou para sempre mas ainda pulsa em nós pelo bem querer que nos inspirou e pelo amor que implantou em nossos corações.
A morte nos roubou seus gestos, seu carinho, seu jeito de fazer amigos, sua presença luminosa e sua imagem de auroras e ocasos mas não conseguiu se apossar de sua alma em nossa memória nem suprimir a lembrança terna do que ele era e para nós continua sendo, nem varrer de nós o amor que por ele aprendemos a cultivar.
Rafa quando partiste sem meu consentimento causaste a maior dor de minha vida e quando soube que não mais voltavas a maior dor que eu, teu pai, podia sentir.
Fernando Torres Barbosa

Alexandre said...
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Alexandre said...

Po Wally, Gogão me contou cara. :(

Foda...

Só penso em Vitor véio... :~~

Anonymous said...

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