Thursday, February 16, 2006

Apreço pelo silêncio

A maioria das pessoas não lida bem com o silêncio. É comum, durante conversas, exigirem da pessoa calada: "fala alguma coisa!" ou "fulano fala tanto que meu ouvido dói". Quando o calado se encontra em silêncio por timidez, isso provoca sorrisos de desconforto, seguidos de uma ou outra frase breve. Às vezes o silêncio é medo de demonstrar ignorância; neste caso, são comuns os "ahams", e os acenos de cabeça indicando concordância. Afinal, um tolo calado oculta mais facilmente sua tolice do que um tolo falante. Como se vê, o silêncio é frequentemente associado à idéias negativas: timidez, tédio, ignorancia, falta de assunto.

O valor de um vaso, copo, ou garrafa está justamente nos seus espaços vazios, que dão utilidade a tais objetos. Na música os silêncios são tão importantes quanto as notas; eles são modeladores decisivos da sonoridade. É o uso dos silêncios que vai diferenciar duas frases musicais com as mesmas notas; desrespeitá-los destrói a beleza de uma melodia.

Atualmente os estímulos são tão variados e tão atraentes que as pessoas não conseguem passar vinte minutos paradas, em silêncio, na companhia da própria mente. Esta vai perdendo sua capacidade de gerar significados e com eles preencher os vazios, devido ao bombardeio de estímulos de significação descartável. As pessoas procuram estar o tempo todo ocupadas, distraídas com o que quer que seja, porque ficar a sós com a própria mente é inquietante, entediante, angustiante.

Osho dizia que a mente é como nuvens, sempre a turvar nossa visão, impedindo-nos de perceber as coisas claramente. A iluminação seria o desenvolvimento da "não-mente", o emergir de uma consciência livre das ilusões que a mente não cansa de fabricar. E o caminho para isso seria a meditação.

Esta iluminação parece algo inatingível para a maioria das pessoas. Talvez de fato seja um privilégio para poucos. Mas parece possível observar a mente, seus medos e desejos, o angustiante vazio que ela se esforça para preencher. E, em vez de tratá-los com paliativos, aprender a conviver com eles. Desenvolver o apreço pelo silêncio, em vez de passar a vida fugindo dele, em vão.

4 comments:

Anonymous said...

Para corroborar com suas palavras pesquisas dizem que quem muito fala, pouco pensa.(não sei da veracidade desses levantamentos) O que não quer dizer, necessariamente, que quem pouco fala, (bem ou mal)pensa muito.

Com o silêncio as pessoas escutam a verdade doída ,e decidem omiti-la para silenciá-la. Só que os humanos ainda não se acostumaram com a tal da verdade e escolhem viver nessa ilusão (nessa falácia).

Agora vou silenciar (para estudar) e só falarei quando for solicitado.

Anonymous said...

Por falar em silêncio, esse texto me fez refletir que a televisão é uma caixinha tagarela que não para de falar..., 24h por dia.., desde que eu nasci,

Sim muitas pessoas têm dificuldade em lidar com o seu silêncio, por isso vivemos a era do entreterimento..,
Lembre-se do que a vóvó dizia:
"Cabeça vazia, morada do diabo"

ENTRETERIMENTO!!!

Imagina a quantidade de entreterimento que aqueles monges lá dos altos Himalayas têm..,

Nós, aqui do BBB n45 , se ficarmos em silêncio por 5 minutos já nos atormentamos...

Anonymous said...

E aí parceiro.... faz um tempão que não aparecia aqui.

Mas foi só para quebrar o silêncio,hehehehhe!

Gostei deste seu texto e da forma com a qual você o desenvolveu, partindo do ponto como sendo algo desconfortável e doloroso e chegando no silêncio "desfrutável",apreciado,"viajante e extreamente gritante, pois com a capacidade que temos em nossa mente, o silenciio pode ser o "não silêncio", embora seja visto sempre como o silêncio.

que aqui pra nós....eu adoro...hehehhe!

falow mutley

falow mutley

Anonymous said...

Como sempre, Bernardo, seu texto está perfeito.
É preciso CORAGEM para ficar quieto, no silêncio, em companhia de si mesmo. Porque é nesses momentos que, de repente, fazemos aqueles questionamentos fundamentais que sempre evitamos fazer, simplesmente porque ainda não encontramos a resposta. Surge aquela sensação de que somos obrigados, agora, a dialogar sério com a realidade, surgida por detrás daquela bruma ruidosa do mundo, que agora dorme.
Não conheço pessoas verdadeiramente inteligentes que não sejam capazes de apreciar o silêncio.
Grande abraço!
Silvio