Thursday, December 28, 2006

Gentileza não é Frescura

Gentileza não é frescura. As melhores conversas são as horizontais (não essa que pensais, ó mente profana), aquelas em que os falantes estão no mesmo nível. As diferenças de status, poder, dinheiro ou talento devem ser deixadas de lado, ou levadas na brincadeira, para o bem da conversa. Senão, a conversa fica vertical, como um prego na areia, facilmente derrubável pelo mais insignificante dos ventos. Já o prego na horizontal, sob o mais forte vendaval, apenas mudaria de local, podendo flutuar, ao lembrar da sonhada mulher, para logo em seguida desabar, ao vê-la nos braços de um outro qualquer.

Diversos homens se sentem desconfortáveis com a gentileza, receosos de que ela lhes comprometa a masculinidade. Talvez por isso os gays sejam tão populares com as mulheres, não esquecendo, é claro, que a ausência de risco predatório eleva bastante o grau de intimidade e cumplicidade. Essa grosseria masculina prejudica as conversas, visto que é a gentileza que deita o prego, embora alguns só o façam quando vão à cama ou a nocaute, o que os torna desmerecedores de boas conversas. Quando dois deles se encontram, não há conversa e sim dois monólogos, um tentando superar o outro na milenar arte da preguice.

Claro que a grosseria tem seu lugar nas boas conversas, principalmente como recurso humorístico. Tirar onda com o próximo também é ótimo, desde que a gréia vise o sorriso de todos, e não apenas a cara amarrada do greiado, cabendo a ele recusar o papel de estilão. Mas não falo da grosseria engraçada, e sim da praticada por receio de implicações baitolísticas. Acabemos com essa bobagem de uma vez por todas: gentileza não é frescura.

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