Sunday, December 02, 2007

A cegueira da visao

Artes visuais nao me dizem muita coisa. Pinturas, esculturas, arquitetura, tudo isso nao me fascina. Em museus, sao raras as vezes em que nao tenho que driblar o tedio. Ouvir e ler as explicacoes sobre os quadros me estimulam mais do que olha-los.

Tenho visto muito quadros e esculturas famosas nessa viagem. Minha reacao padrao a maior parte e um "que bonito!" desempolgado. Fico imaginando como Paulo Mineiro - que tem apetite para artes visuais equivalente ao meu para artes escritas e sonoras - reagiria. Provavelmente derreteria em extase contemplativo.

Sei que posso, investindo algum tempo e energia, me divertir mais com meus olhos miopes. Apreciar arte e um prazer que pode ser cultivado, como tomar vinho. Mas existem dezenas de prazeres que podem ser cultivados. Porque deveria eu escolher esses dois? Nunca fiz questao de fazer parte do sofisticado grupo de apreciadores de artes e vinho - razao que leva a maior parte dos que nao tem gosto natural pela coisa a fazer o esforco de plantar a semente em solo inospito.

No momento venho fazendo o esforco porque estou tendo a oportunidade de ver todas essas maravilhas in loco - seria um crime nao conhece-las, e quase uma obrigacao de turista. E tudo muito bonito. Mas as estorias do Neil Gaiman me divertem bem mais do que os quadros do Da Vinci.

12 comments:

Anonymous said...

é um sem coração esse rapaz.

Ousaria dizer que não passa deum punga.

Anonymous said...

eu diria, meu jovem, que qualquer manifestação artística "vale a pena - quando a alma não é pequena"! e certamente, não é este o seu caso. aos vinte e três anos, investindo apenas 00,1% na educação desse teu, aparentemente, insensível olhar às artes visuais... aos trinta serás um especialista!
grande abraço e saiba que adoraria, a exemplo do tal PMineiro, derreter-me mirando esse museu a céu aberto que é a Itália!

Anonymous said...

a maturidade (dos sentidos )e diferentes convivências geralmente trazem o interesse por outros campos (ou não...).quem sabe um dia, merlots serão degustados e tarsilas admirados com apuro?

Anonymous said...

esse JR falou e disse Bernardo!

Bernardo said...

Marcos, tive que ir ao dicionario para compreender toda a sua cretinice! :D Gostei do termo, vou adiciona-lo a minha lista de xingamentos que ninguem entende.

Luiz Felipe Botelho said...

Caro Mutley,
estava agora mesmo pensando se essa história de gosto é gosto mesmo ou é hábito, acomodação. Se o prazer vem do gostar de algo ou de gostar de algo que todos gostam. Li teu post e me vi pequenininho, com minha mãe orgulhosa porque eu sabia falar de Leonardo da Vinci no museu. Tá, eu gostava daquelas pinturas, mas gostava muito mais de ver a cara dos meus pais sorrindo de orgulho. Sacaste onde fiquei matutando?

Me identifiquei contigo quando li essa confissão de curtir mais o Gaiman do que o Da Vinci. Sendo extremamente franco comigo mesmo, contigo e com quem ler isto aqui, me sinto muito mais atraído por essa arte ainda marginalizada (to falando de quadrinhos, gibis, arte sequencial) de caras como Gaiman, Moebius, Manara, Liberatore e outros tantos, do que pelas telas (belas, claro) dos Da Vincis, Picassos, Câmaras, e etc.

Gosto de uma arte misturada com narrativa e algo mais que tem ali que nem sei se tem nome - e que talvez nem precise ter - e que na maiorias das obras de artes plásticas não tem.

Ano que vem talvez eu queira até ir ao museu, mas este ano, não. :)

Abração

Bernardo said...

Felipe, perfeito o seu comentario! A outra "visao cega", alem da minha insensibilidade as artes plasticas, e a do cultivo de gostos nao por uma pulsao interna, mas para satisfazer expectativas alheias, para se inserir num determinado grupo. Se voce nao gosta de artes plasticas, e visto pelas pessoas "cultas" como ignorante, insensivel... essas mesmas pessoas colocam obras-primas de arte sequenciais como as que voce citou varios degraus abaixo na "hierarquia das artes", muitas vezes sem se dar ao trabalho de le-las, por puro preconceito, porque se convencionou que o quadro de Da Vinci ou a estatua de Michelangelo sao as obras mais geniais ja produzidas pelas "artes superiores"...

Diferentes artes aticam diferentes sensibilidades. E as artes marginalizadas podem ser tao geniais quanto as artes classicas.

Anonymous said...

Convenção obras de Michelangelo e Da Vinci? Qtos artistas faziam trabalhos na mesma época e se perderam na poeira do tempo? O sambinha de Cartola de 4 ou 5 décadas atrás que resiste até hoje tb é convenção? Claro que não. Permanecem os que têm valor, tornam-se clássicos,são atemporais...se a cegueira (não tratada) não permite enxergar, é outra coisa.

Bernardo said...

A convencao a que me refiro e a que separa diferentes formas de arte, como artes plasticas e quadrinhos, em diferentes graus de importancia e genialidade. Claro que obras que resistiram ao tempo, seja Da Vinci, Michelangelo ou Cartola, tem indiscutivel grande valor. O problema e so enxergar merito e genialidade nos classicos, inclusive porque muitos desses mesmos classicos nao tiveram o devido reconhecimento no seu tempo. Camoes morreu sem ver seu Lusiadas fazer parte do Canone literario. E se "classicos" significa "excelencia que resiste ao tempo", existem classicos em todas as diferentes formas de arte. O que eu nao concordo em com o termo "artes classicas" significando apenas pintura, ou escultura, ou arquitetura, como se as outras formas de arte tivessem valor menor , como se fossem incapazes de exprimir excelencia e genialidade.

Luiz Felipe Botelho said...

É nisso que também acredito Bernardo. E te confesso que é gostoso sentir que acredito realmente em algo que não me foi imposto por ninguém e que me parece claro e límpido como um céu de brigadeiro.

Anonymous said...

será que não existe açodamento dos fãns em vê-los (gaiman,moebius...) 'clássicos'? o tempo, só o tempo, poderá dar esta chancela.

Bernardo said...

E preciso algum tempo para uma obra ser considerada "classica". Mas quanto tempo? Filmes de Woody Allen da decada de 70 recebem a alcunha.

Os discos de Bob Marley dos anos 70 sao considerados classicos dentro do universo do reggae. Os quadrinhos de Robert Crumb do fim dos anos 60 sao considerados classicos dentro do universo dos quadrinhos.

Cada universo tem sua lista de obras seminais. Eu so gostaria de saber quais criterios determinam que um universo e melhor, maior, ou mais importante do que o outro.