Monday, November 08, 2004

Incensos, modas e o que realmente importa

Numa conversa no aniversário de Camila e Tina, o Rafa falou do salto qualitativo que os Los Hermanos deram do primeiro pro segundo disco, de como o terceiro também é lindo... Eu concordei na hora, penso a mesma coisa. Pablo, do alto de sua vasta cultura musical, falou que os barbudos ainda não o convenceram, que a estética e os temas abordados nas letras não o agradam... Iniciou-se uma pequena discussão que foi encerrada na resposta exaladora de sarcasmo de Karla ao meu inocente argumento, que os Los Hermanos fazem muito bem o que se propoem a fazer. "O É o Tcham também", retrucou a jovenzinha.

Jogando xadrez aprendi a reconhecer a derrota, e a não prosseguir com o jogo por puro orgulho de não desistir. Voltei-me para a cerveja, e antigas reflexões sobre moda e bandas incensadas vieram a tona. Lembrei-me de Paulo Moita, em 99, falando que hoje em dia os burguesinhos gostam de Nirvana e Planet Hemp, que ele gostava nas antigas e agora não ouvia mais.

É um fenômeno curioso, presente em qualquer estilo. Um artista, de repente, estoura. Sua música toca a exaustão nas rádios, seu clipe vai para o disk MTV. Muita gente passa a consumir o trabalho da nova celebridade. A imprensa especializada se derrama em elogios. Os antigos fãs do cara se gabam de já o conhecerem há anos, quando ele não era ninguém.

Já o povo mais ligado em música, que já passou incontáveis horas ouvindo grandes artistas e já viu esse fenômeno se repetir várias vezes, costuma reagir de forma inversa. Falam que o que está fazendo sucesso é um lixo, que o êxito se deve ao bom marketing que fizeram pra ele, e se o cara for antigo, que ele era bom nos anos 70. Ocorre também de fãs o renegarem porque ele estourou. "O cara se vendeu", dizem.

Boa parte da população é feliz seguindo modas. São rotulados de alienados, sem personalidade, por aqueles que não seguem. O curioso é que muitas vezes os que não seguem modas são influenciados por elas na mesma proporção, ao enfiarem na cabeça que o que está na moda é ruim, antes mesmo de parar pra escutar a obra. Quando o fazem procuram defeitos para justificar a opinião pré-concebida.

Nesse jogo, a obra se perde. Os que gostam o fazem muito mais pela influência da moda, e o mesmo ocorre com os que não gostam. Com o julgamento turvado por essa elegante senhora, fica difícil entrar na viagem do artista. Que no fim das contas, é o que realmente importa. A elegante senhora, aparentemente imortal, já tem poder demais. Acho que não devemos dar a ela ainda mais, seja aceitando de bom grado a moeda que ela nos joga, seja recusando "inteligentemente". Basta olhar a moeda com clareza, e decidir se ela merece ou não entrar para sua coleção.

3 comments:

Anonymous said...

Escroto esse lance... acho q lembro duma vez que estavamos na tua casa ouvindo nirvana... se não me engano Mateus, que na poca namorava com Cecília, falou q ñ gostava do nirvana por eles eram famosos ou coisa assim do tipo. Descontando minha memória fraca e a possibilidade de estar errado, esse papo já retratava esse assunto....
gostei muito do texto, ta belo :P
pena que não pude ir a festa
sergio

D Mingus said...

Concordo em gênero e grau Bernardus... apesar de não gostar de tudo da banda, não reconhecer o salto criativo que eles deram seria pura ranzinzice. Por sinal, Cejoca, passei a respeitá-los mais após aqueles dias na praia em que levastes o Ventura a tira-colo... É um disco sensacional.
Agora, já discordo daqueles que acham o "Bloco do Eu Sozinho" a melhor coisa já feita nos últimos anos tratando-se de rock tupiniquim. Mas, em todo caso, acho que, nele, os barbudos acertam mais do que melam o sibazol... diferente do quase total besteirol do primeiro disco.

Anonymous said...

Quando alguma coisa, que antes era "alternativa", passa a ser do "povão", e alguns de seus antigos fãs acabam renegando essa coisa, apenas pelo fato dela ter virado moda, é uma desgraça mesmo! Na minha opinião esse tipo de pessoa - que geralmente se acha mais culta por ouvir música desconhecida - é tão alienada quanto os modistas, afinal, não tem opinião própria, já que ela mudou pelo fato dos artistas terem se tornado conhecidos e não pelo fato deles terem piorado a qualidade do som.

Penso que esse negócio dos artistas assinarem um grande contrato e se tornar famosa do dia pra noite, não é nada mais que um chance deles mostrarem sua arte para um público ainda maior, pois acho que essa é a intenção de qualquer artista. Mas às vezes esses contratos impoe restrições à criatividade das produções, e elas acabam sendo, de fato, prejudicadas. Mas esses são outros 500 que não acontecem com todo mundo....

Kenshin Br (o moleque do GGE)
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