Wednesday, November 24, 2004

O guia espiritual Raul Seixas

Ouvi Raul pela primeira vez muito novo, por volta dos 9 anos. Meu pai me chamou pra ouvir "Al Capone", no seu apartamento em São Paulo. De volta a Recife, o marido da minha prima me deu uma fita cassete de Raul. Decorei as músicas rapidinho, e como vivia a canta-las, minha madrinha me deu o "Raul Seixas: Uma antologia". Todas as letras, além do resumo da vida e um bocado de luz sobre as várias faces do baiano. Foi meu livro de cabeceira por um tempo.
Costumo dizer que uma das minhas grandes frustrações é saber que nunca irei a um show de Raul. Pagaria caro para vê-lo, mesmo que completamente embriagado, errando todas as letras. E eu não sou o único. Raul continua importante, seja para os que o viram no auge, seja para os que nem eram nascidos quando ele morreu. Uma das razões disso é sua "Metamorfose Ambulante". Tem Raul para românticos, realistas, místicos, rebeldes... Para quem só quer ouvir humor inteligente numa letra fácil ou para quem passa horas descobrindo diversas significações em suas letras.
É, Raul faz pensar. Talvez essa seja a principal razão de sua magia resistir ao tempo. Não é tanto a identificação ou a concordância com as letras, como ocorre com Legião Urbana e Los Hermanos. É o refletir sobre o que ele diz, interpretando da tua maneira, buscando a tua verdade. E Raul sabia como poucos vestir idéias com roupas diferentes. Uma mensagem anarquista numa música infantil exibida na Globo, uma música sobre Deus (ou melhor, Krishna) que muitos pensam ser sobre amor...
"Não sou cantor nem compositor, uso a música para dizer o que penso". Segundo Sylvio Passos e Toninho Buda, autores do livro que citei, a verdadeira vocação de Raul era ser escritor. Pois eu acho que a grande vocação de Raul era ser guia espiritual. Pode parecer estranho falar isso de alguém que morreu prematuramente devido ao abuso de álcool. Mas eu encontrei e encontro não apenas conforto, mas Luz e Caminhos na obra de Raul. "Tente Outra Vez" e "Planos de Papel" me ajudaram muito mais do que análises e livros de auto-ajuda. Por isso eu digo que sua vocação não foi frustrada. Pelo menos não pra mim.

1 comment:

Anonymous said...

Você não é realmente o único.
Acredito mais em que guia espiritual, pelo menos para mim.