Sunday, March 04, 2007

Sem tomar Aspirina

Conforta imaginar um si mesmo aperfeiçoado, calejado dos erros cometidos, acostumado com dificuldades já experimentadas. Conforta imaginar um know-how crescente, uma experiência acumulada que não só melhora suas ações, como também protege do sofrimento gerado pelo si mesmo. Conforta viver sob as leis da evolução, tornando-se uma criatura mais apta a sobreviver, com a passagem do tempo.

O que desconforta é saber que o carro do aprimoramento não anda em linha reta rumo ao topo. Saber que às vezes ele desce a estrada, em vez de subir. Saber que noutras, simplesmente enguiça, o tempo indo e o carro ficando. Mecânicos são chamados, empurrões tentam, mas o carro não dá partida, definindo um período do qual a lembrança é uma única paisagem congelada.

Lembranças que ajudam o carro a retomar o movimento. Lembranças que fazem com que seja gasto mais tempo com o retrovisor do que com a estrada à frente. Lembranças que gostaríamos de perder, ou de jogar para o futuro. Lembranças freio-de-mão, lembranças quinta marcha.

Após umas cervejas, quase no fim da tarde, contemplando o mar, me invadiu uma plenitude, como se toda a trajetória, com suas subidas, descidas e paradas, fizesse algum sentido. Poucas horas depois, em plena dor de cabeça, a conclusão que eu chegava é que não fazia sentido algum. Meio sentido, resolvi escrever esse texto. E então a dor de cabeça passou.

1 comment:

SMS said...

Essas reflexões a cerca de não sei o que se tornam melhores ainda quando passadas para o papel. Que boa descrição..